Safra menor, mas ainda grande 15/12/2011
- O Estado de S.Paulo
A queda de 2,4% na estimativa da produção nacional de grãos na safra 2011/2012 em relação à safra anterior, prevista no terceiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não é necessariamente uma notícia ruim. Obviamente, melhor seria se a previsão fosse de novo crescimento da safra agrícola. De qualquer maneira a produção de grãos será muito alta e comprovará, mais uma vez, os resultados da profunda transformação pela qual passou a atividade rural no Brasil nas últimas décadas. Graças aos investimentos, que permitiram o emprego cada vez mais intenso de novos métodos de gestão e de novas técnicas, a agricultura brasileira alcançou ganhos de produtividade e de qualidade que a tornaram uma das mais competitivas do mundo.
Oscilações de produção, produtividade ou de área cultivada entre uma safra e outra são naturais - pois a atividade rural é sujeita às variações do clima e as decisões de plantio são influenciadas pelas flutuações do mercado mundial. Além disso, as quedas previstas nos levantamentos da Conab não configuram uma tendência da atividade rural no País.
De acordo com os resultados apurados até agora pela Conab, a produtividade deverá cair, pois, mesmo com o aumento de 1,1% da área de plantio (de 49,92 milhões de hectares para 50,45 milhões de hectares), a produção diminuirá 2,4% (de 162,96 milhões de toneladas para 159,08 milhões de toneladas). Mas esta é uma conclusão provisória.
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A pesquisa mais recente foi realizada entre os dias 21 e 25 de novembro por cerca de 60 técnicos da Conab, que visitaram órgãos públicos e instituições privadas ligados à produção agrícola em todos os Estados. Naquele período, como ressaltou o relatório da Conab, "o plantio estava em andamento, prevalecendo o estágio de desenvolvimento vegetativo". Por isso, para o cálculo da produtividade, adotou-se como critério a média dos últimos cinco anos (descartados os resultados atípicos), à qual se adicionou o ganho tecnológico. Só nas próximas pesquisas de campo, quando se terá uma noção mais correta da produção, será possível aferir com mais precisão a produtividade.
As culturas mais representativas, de soja e de milho, somam 83% da produção nacional de grãos, mas suas perspectivas para a safra 2011/2012 são bem diferentes. No fim do mês passado, a área plantada com soja no Centro-Sul do País já alcançava 92% da área reservada pelos agricultores para essa cultura e, no Norte-Nordeste, 65%. A safra estimada pela Conab é de 71,29 milhões de toneladas, uma redução de 5,4% em relação à safra anterior.
O milho responderá por boa parte do aumento da área de plantio. Bons preços do produto e a necessidade de rotação de culturas estão entre os fatores que levaram os agricultores a plantar mais milho nesta safra. A produção, de acordo com os resultados da primeira safra, pode crescer até 4%. Já as áreas reservadas para o arroz e o feijão da primeira safra deverão diminuir.
Com base nos resultados do último levantamento, a Conab prevê a redução de estoques de arroz em casca, feijão, soja em grão e trigo no final da safra. Mesmo que a redução se confirme, não se preveem problemas de abastecimento nem de pressões excessivas sobre os preços dos alimentos.
O mercado internacional continua muito pressionado pela crise financeira e fiscal dos países industrializados, mas os fatores clássicos de formação de preços de alguns dos principais produtos de exportação do Brasil, como a soja, continuam ativos. Há um descompasso entre a oferta e demanda mundial de soja, que pode resultar em redução dos estoques mundiais. Isso pode conter a queda da cotação do produto observada nos últimos meses.
A eficiência da agricultura continua a ser desafiada pelos conhecidos fatores que afetam a produtividade global da economia brasileira, especialmente a precariedade da infraestrutura, que dificulta e encarece o escoamento da safra. A despeito desses fatores altamente adversos, a produção e a produtividade continuam altas.