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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

De Jong-il para Jong-un
20/12/2011 - O Estado de S.Paulo

Quando Kim Il-sung nasceu, uma estrela brilhante surgiu no céu e um duplo arco-íris abraçou a Terra. Quando morreu, um golpe militar impediria que o herdeiro que ele escolhera, Kim Jong-il, lhe sucedesse. A primeira afirmação foi repetida incontáveis vezes pela agência oficial de notícias da Coreia do Norte, como parte da divinização do "eterno líder" comunista que fundou o país, em 1948. A segunda foi uma estimativa, enunciada como certeza absoluta pelas agências ocidentais de inteligência, a começar da CIA. Uma e outra valem tanto quanto a advertência de que um perigoso vácuo de poder se instalará no paupérrimo país dotado de armas atômicas, agora que o "querido líder" e "líder sem par" Kim Jong-il se foi - embora o seu filho, Kim Jong-un, tenha sido alçado ao seu lugar, como queria o pai.

E o alerta, enfim, vale tanto quanto a expectativa de que o terceiro Kim, o único da dinastia a ter vivido no Ocidente, abra ao mundo o mais recluso e paranoico dos regimes, promova a distensão com a vizinha Coreia do Sul e, de quebra, aceite negociar a cessação do seu programa nuclear em troca da ajuda de que necessita desesperadamente em todos os campos. "Para ser honesto", escreveu no Guardian de Londres o colunista Simon Tisdall, "ninguém sabe ao certo o que poderá acontecer na Coreia do Norte em seguida à morte súbita de Kim Jong-il." (Embora doente há três anos, ele parece ter morrido do coração, numa viagem de trem.) A incerteza se aplica até à China, o único arrimo da surreal monarquia marxista de Pyongyang - que, ainda assim, às vezes não lhe antecipa as suas intenções.

A única assertiva que talvez se possa fazer sobre o futuro do país é que muito vai depender da capacidade de Jong-un de provar que os sapatos do pai lhe servem - com ou sem os saltos embutidos que usava para parecer menos baixote. Os seus examinadores serão os inescrutáveis generais da Comissão Militar Central do Partido Comunista e os membros da Comissão de Defesa Nacional, que dirige o programa nuclear. A sua fidelidade ao regime não o desobriga de tê-los como consultores de última instância. O absolutismo norte-coreano se sustenta no pacto de poder entre o equivalente ao imperador, a cúpula do Exército de 1,1 milhão de soldados (o quarto maior do mundo e muito bem aquinhoado, em proporção aos recursos nacionais), a comissão de defesa e os demais hierarcas do partido.


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Foi dentro dessa teia que se cumpriu a liturgia prescrita pelo fundador da dinastia. Kim Il-sung anunciou Jong-il como seu herdeiro político na abertura do congresso comunista de 1980. Jong-il repetiu o procedimento com o filho caçula Jong-un, em novembro do ano passado, no primeiro evento do gênero em três décadas. (O sucessor natural seria o primogênito Kim Jong-man, não fosse o fato de o pai e a mãe não terem se casado.) Jong-un, um civil de menos de 30 anos - a idade exata é desconhecida -, que estudou na Suíça, recebeu então a patente de general de quatro estrelas e foi nomeado para o comitê central do partido e a vice-presidência da comissão militar. Sua madrinha foi a tia e tutora Kim Kyong-hui, a confidente de Jong-il educada na antiga União Soviética, que controla a indústria leve do país e cujo marido é vice-presidente da comissão de defesa. Uma família real aparentemente coesa, portanto.

Com o pouco que a ditadura dá a conhecer de si, não há por que esperar que Jong-un tenha a pretensão de retirar dos militares parcela que seja de sua supremacia política - e o controle das suas seis ou oito bombas atômicas. A ambição do regime equivale a comer o bolo e ficar com ele: manter o status quo interno, incluídas as atividades nucleares, ser tratada como grande potência pelos EUA, Rússia, China, Coreia do Sul e Japão (seus interlocutores nas empacadas "conversações de seis lados") e, ao mesmo tempo, receber de Seul e Washington as doações "humanitárias" de alimentos que o esfaimado país não consegue nem produzir nem comprar. Lembrando o penteado à Elvis do finado Jong-il, dir-se-ia que é muito topete. Mas é de lembrar também que 49 milhões de sul-coreanos estão ao alcance da artilharia de Pyongyang.

  

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