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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Mais brasileiros nos EUA
21/01/2012 - O Estado de S.Paulo

Não poderia ser mais apropriado o local escolhido pelo presidente Barack Obama para anunciar medidas destinadas a facilitar a concessão de vistos para brasileiros que pretendem viajar para os Estados Unidos. O Walt Disney World, onde Obama fez o discurso anunciando as mudanças, fica em Orlando, no estado da Flórida, principal destino americano dos turistas brasileiros. A Flórida recebe pelo menos metade dos brasileiros que vão para os EUA.

Obama não deixou dúvidas de que os EUA querem que mais e mais estrangeiros, sobretudo dos países emergentes, os visitem, porque eles deixam dinheiro no país. "Quero que os Estados Unidos sejam o maior destino turístico do mundo", afirmou. "Quanto mais visitantes recebermos, mais americanos terão empregos. É simples."

Até agora, a obtenção do visto tem sido uma tarefa árdua para os brasileiros interessados em viajar para os EUA. É um processo caro, demorado e incerto. A entrevista no Consulado Americano em São Paulo, exigida pelas regras em vigor atualmente, está sendo agendada para até dois meses depois de feito o pedido. No dia da entrevista, o interessado ainda precisa enfrentar filas quilométricas. E pode ocorrer de o visto não ser concedido. Por tudo isso, o interessado terá desembolsado de US$ 140 a US$ 350 - sem direito à restituição.


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Mesmo assim, no ano passado, 1,5 milhão de brasileiros visitaram os EUA. Para receber ainda mais turistas do Brasil - há tempos, funcionários do governo americano informaram que a meta é conceder 1,8 milhão de vistos em 2013, mais do dobro dos concedidos em 2010 -, o país reduzirá exigências. Os interessados em renovar o visto vencido ou prestes a vencer serão dispensados da entrevista no Consulado. Da mesma forma, crianças e idosos não precisarão passar pela entrevista. Somente os que estiverem pedindo visto pela primeira vez terão de cumprir essa exigência.

Ainda faltam detalhes das medidas - as idades para dispensa da entrevista, a data de vigência das novas medidas, etc. -, mas está claro que, com elas, o governo dos EUA quer aumentar o número de estrangeiros que visitam o país e lá gastam dinheiro, em compras e utilização de serviços. E, nisso, os brasileiros têm sido campeões. De acordo com algumas estatísticas, o brasileiro que viaja para os EUA deixa ali, em média, US$ 5,6 mil, quase R$ 10 mil. É o turista que mais gasta no país. "O brasileiro, quando viaja, impulsiona tudo o que existe de infraestrutura local", segundo Luis Moura, vice-presidente da US Travel, uma agência americana de turismo.

Lojas finas no sofisticado bairro de Upper East Side de Manhattan, em Nova York, e lojas de pontas de estoque de New Jersey já têm funcionários fluentes em português, pois os compradores brasileiros são prioritários nos departamentos de estrangeiros desses estabelecimentos, como informa o correspondente do Estado em Nova York, Gustavo Chacra.

Têm se intensificado as viagens de brasileiros ao exterior para compras. Cada vez com mais frequência brasileiros adquirem em outros países, especialmente os Estados Unidos, enxovais para o casamento ou para o filho que vai chegar. Estando no exterior, compram também bens de uso pessoal, como calçados e vestuário, além dos tradicionais produtos eletrônicos e artigos estrangeiros. Compram, e cada vez mais, em outros países porque muitos desses artigos custam bem mais barato lá fora do que no mercado interno. Excesso de tributação dos produtos importados e valorização do real em relação ao dólar explicam a alta dos preços no Brasil.

Mas isso acontece também com certos produtos brasileiros, como calçados, o que sugere a existência de distorções na economia do País.

A facilitação da concessão de visto de entrada nos EUA beneficiará um grande número de brasileiros que querem viajar para aquele país, mas tende a agravar um problema macroeconômico. Os gastos de brasileiros no exterior já pesam no balanço de pagamentos do País, e pesarão ainda mais com o aumento das viagens internacionais.

  

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