Em janeiro as famílias diminuíram suas dívidas 17/02/2012
- O Estado de S.Paulo
O ano de 2012 começou com queda na tomada de crédito de pessoas físicas, acompanhada de redução das taxas de juro.
A tentação é de atribuir a menor busca de crédito à queda dos juros (já que, mais adiante, ele seria mais barato). Mas isso não nos parece determinante, dado o fato de que as famílias dão mais atenção ao prazo do crédito do que a seu custo.
Segundo a Serasa Experian, a demanda de crédito, que havia aumentado 4,6% em dezembro, caiu 8,2% em janeiro deste ano. A explicação melhor, a nosso ver, para a queda, é a maior inclinação das famílias por reduzir suas dívidas. Nesse particular, é interessante observar a clara relação entre o montante da renda pessoal e a redução da demanda de crédito: os que têm renda mensal de até R$ 500 reduziram sua demanda de crédito em 9,1%; os com renda de até R$ 1 mil, em 9%; os com renda de até R$ 2 mil, em 7,8%; até R$ 5 mil, em 7,1%; até R$ 10 mil, em 6,4%; e com mais de R$ 10 mil, em 5,8%.
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Esse quadro nos permite concluir que a retração de crédito foi maior para as famílias de poder aquisitivo menor, sem que fosse levada em conta a taxa de juros.
As taxas de juros de fato caíram, como mostra o levantamento realizado pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Para as pessoas físicas, a taxa mensal dos empréstimos pessoais dos bancos passou de 4,21%, em dezembro, para 3,99%, em janeiro; o cheque especial passou de 8,36% ao mês para 8,34%; e os juros do comércio, de 5,36% para 5,05%. Só no caso do cartão de crédito as taxas ficaram iguais, em 10,69%, para desestimular os atrasos de pagamentos dos portadores de cartão.
A taxa média anual de juros caiu de 114,84% para 110,52%. Podemos perceber que a redução da taxa Selic, de 0,89% em janeiro, não teve grande efeito sobre as pessoas físicas. Nem as liquidações levaram essas famílias a aumentar seu endividamento. Ao contrário, depois dos empréstimos de dezembro, as famílias procuraram reembolsar suas dívidas para começar o ano em melhores condições.
Trata-se de uma atitude muito positiva, pois nem a perspectiva de um aumento de 14% do salário mínimo induziu as famílias de menores rendimentos a reagir de modo diferente. A única preocupação que pode haver é com a excessiva distribuição de cartões de crédito pelos bancos a pessoas cuja renda não permite a utilização desse instrumento facilitado de crédito, que justificaria que as autoridades monetárias proibissem estender o prazo de pagamento com uma taxa de juros escandalosa.