SOS Emergências, um salto de qualidade 21/02/2012
- Antonio Carlos Forte*
Voltado para a qualificação da gestão e do atendimento em grandes hospitais que atendem pelo SUS, o SOS Emergências, do governo federal, é o melhor e mais articulado programa já implementado na área, por combinar três elementos-chave: atua em todas as etapas relacionadas ao pronto-socorro (PS), do atendimento pré-hospitalar à retaguarda; envolve o conjunto da rede, trazendo para dentro dos hospitais representantes dos três níveis de poder para conhecerem de perto os problemas e, juntos, decidirem e participarem da execução das soluções; e vem atrelado a recursos. Por isso trará melhorias importantes para o PS da Santa Casa, um dos maiores da América Latina (30 mil atendimentos/mês) e um dos 11 hospitais do País incluídos na primeira fase do programa.
O Núcleo de Acesso e Qualidade Hospitalar, criado pelo SOS Emergências, funcionará em caráter permanente com representantes do Ministério, das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde e da direção técnica da Santa Casa, que trabalharão juntos no diagnóstico, desenho e implementação das ações, já que o problema das emergências extrapola os hospitais. O imprescindível também está previsto: um volume de recursos federais para auxiliar as ações, com verbas para investimento (R$ 3 milhões) e praticamente a duplicação do valor pago pelo SUS por diária de internação e de UTI, no caso de leitos dedicados a pacientes do PS.
Todos os pontos cruciais das emergências estão contemplados no programa, da porta de entrada à de saída. A Santa Casa atende pacientes de todo o País - basta andar pelo entorno do hospital para ver ambulâncias das mais variadas procedências. É tradição nossa dar atendimento a todos, mas com o excesso de demanda os problemas se avolumam. Nos casos menos graves, a espera pode ser de cinco ou seis horas e as acomodações em macas nos corredores inevitavelmente aumentam as possibilidades de eventos adversos.
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Como um hospital diferenciado, precisamos garantir que somente venham para cá doentes da região ou os que realmente precisem de atendimento de alta complexidade. Para isso negociamos com a Prefeitura a construção - em terreno da Santa Casa próximo ao PS - de uma unidade de Atendimento Médico Ambulatorial (AMA). Ali será feito o primeiro atendimento e serão resolvidos (ou encaminhados para outras unidades da rede) cerca de 70% dos casos. Uma vez concretizada essa parceria, será de grande valia, pois aliviará o nosso PS, permitindo-nos, assim, dar maior atenção aos casos mais complexos.
Outra prioridade do programa é melhorar o acolhimento do paciente e instituir classificação de risco criteriosa para identificar quem tem de ser atendido primeiro. Já temos a classificação, mas vamos aprimorá-la.
Por fim, temos o problema dos pacientes que não precisam mais de atendimento de emergência, mas ainda demandam cuidados hospitalares. Hoje, a maioria deles fica dias em macas no corredor do PS porque não há onde interná-los. É impossível falar em humanização da saúde nessas condições.
Com o programa, além de reformar e ampliar a enfermaria do PS, estará à disposição um novo hospital somente para manter leitos de retaguarda para essa unidade. A cidade de São Paulo tem vários hospitais desativados. Estamos negociando com um que está pronto para funcionar e já foi visitado por membros do núcleo. Tanto a AMA quanto esse hospital serão gerenciados pela Santa Casa, o que garante que os pacientes que passarem pelo PS, uma vez internados, continuem sendo atendidos pela mesma equipe, seja de neurocirurgia, cirurgia cardíaca ou qualquer outra, com a sequência e os protocolos utilizados no hospital de ensino da nossa instituição.
O Programa Melhor em Casa é outro elemento que deve desafogar o hospital, criando equipes multidisciplinares que atenderão em casa pacientes que hoje têm de permanecer internados - o que vai liberar leitos, melhorar e humanizar o tratamento e reduzir custos. A Santa Casa já faz isso em pequena escala com alguns portadores de doenças crônicas, mas é um serviço eventual que pode crescer muito.
Um projeto antigo que confiamos tornar viável com o programa é uma casa de cuidados para moradores de rua que passam pelo PS. No entorno da Santa Casa, muitas pessoas vivem nas ruas e chegam ao PS em razão de agressões sofridas, atropelamentos, aids, pneumonias, alcoolismo - nunca uma só patologia. Após o atendimento, esses pacientes não têm onde convalescer. Não raro fazemos uma cirurgia grande, damos alta e o paciente volta para a rua, retornando uma semana depois com uma infecção grave, que exigirá longa internação.
Esse espaço será como a casa da família que cuida da pessoa durante a convalescença, aproveitando esse tempo para tentar a ressocialização, como localizar familiares, tirar documentos, prestar cuidados qualificados no alcoolismo e na dependência de drogas. Por fim, buscaremos uma colocação profissional em empresas fornecedoras da Santa Casa para completar, se possível, a ressocialização. Já mantivemos um local assim e até hoje temos trabalhando conosco ex-moradores de rua recuperados pelo projeto. Fechamos porque não havia mais nenhum repasse de recursos, mas o custo é baixíssimo. Manter uma casa assim para 70 pacientes é mais barato do que tratar uma única infecção grave de prótese, que exige longa internação. Será o Melhor em Casa para quem não tem casa.
Com o SOS Emergências, estes projetos foram retomados. Subgrupos do núcleo já trabalham em cada um deles. Como a Santa Casa tem plano diretor, com diagnóstico e soluções já pensadas, as mudanças devem ser rápidas. Os projetos estão desenhados e orçados e temos uma equipe de arquitetos capaz de fazer o que for preciso em poucos dias. O ponto-chave para que o sucesso do programa é o entendimento entre os três níveis de poder, que, tecnicamente, devem ter os mesmos objetivos.
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* ANTONIO CARLOS FORTE, SUPERINTENDENTE DA SANTA CASA DE SÃO PAULO