A redução da taxa Selic não resolve todos os problemas 09/03/2012
- O Estado de S.Paulo
A redução de 0,75 ponto porcentual na taxa Selic teve 2 votos contra no Comitê de Política Monetária (Copom), o que não significa que nova redução na próxima reunião não seja aceita. E causa preocupação essa redução a cada encontro das autoridades monetárias.
A decisão anunciada teve por base a apreciação cambial e o resultado decepcionante do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, que parece continuar, como mostrou a produção industrial de janeiro. A pergunta é se os argumentos são válidos e se a forte redução da Selic pode corrigir o rumo da economia.
O pobre resultado do PIB teve sua origem mais profunda na desordem fiscal do último ano do mandato do presidente Lula, que obrigou a sua sucessora, Dilma Rousseff, a seguir uma política de austeridade nas despesas públicas. Política que, aliás, sacrificou mais os investimentos do que os gastos de custeio.
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A produção industrial, quando se confrontam os dados do IBGE com os da Confederação Nacional da Indústria (CNI), não foi tão ruim como parecia no IBGE: houve aumento das horas trabalhadas e do emprego, assim como uma melhora da Utilização da Capacidade Instalada. Podemos acrescentar que, apesar dos ingressos monetários, dos EUA e da União Europeia, gerados por uma liquidez excessiva nos países ricos, a taxa cambial evoluiu na direção de uma desvalorização, em parte em razão das medidas tomadas pelo governo.
Cumpre analisar os efeitos da redução da taxa Selic em razão dos objetivos invocados. Uma redução da taxa de juros se justifica quando existe falta de demanda. No Brasil não é a demanda que é insuficiente, mas a oferta nacional, por causa da baixa competitividade da indústria, que até parece ter-se acomodado e se resignado a importar. Pode-se pensar que a queda dos juros irá estimular os investimentos industriais, mas o fato é que, mesmo com uma taxa de juros muito baixa, a TJLP, os investimentos da indústria ficaram aquém do esperado. No momento, o efeito da redução dos juros será aumentar a demanda - ou seja, o descompasso entre produção e consumo - e aumentar as importações.
A continuidade da redução da taxa Selic vai criar diversos problemas, além de um terreno favorável à inflação. O Tesouro estima em R$ 362 bilhões a necessidade líquida de financiamentos para este ano, e não se pode reduzir bruscamente a rentabilidade oferecida pelos papéis do governo nem a da poupança. Investimentos na infraestrutura e melhor produtividade da indústria são mais eficientes do que a queda da Selic.