O PSDB se saiu duplamente mal da prévia - a primeira de sua história - para a escolha do seu candidato à Prefeitura da capital. Em primeiro lugar, depois de um processo tortuoso, a começar da quizília sobre quem teria direito de participar da votação, e terminando com o adiamento do ato para acomodar os interesses do ex-governador José Serra, que anunciou com a invariável demora a sua intenção de disputar a indicação partidária - e que não queria prévia nenhuma.
Apenas pouco mais de 6 mil filiados, entre 21 mil aptos a votar, deram-se ao trabalho de comparecer. Um certo número deles, aliás, como registrou este jornal, foi como que empurrado pelos cabos eleitorais dos candidatos a exercer a sua militância, com transporte garantido e a atração de um churrasco domingueiro. Coisa de legenda da velha escola na agremiação que parece ter ficado obsoleta antes de ver realizados os seus ideais renovadores.
O segundo resultado constrangedor foi a própria vitória de Serra. Brigando pela candidatura com dois tucanos, o secretário estadual de Energia, José Aníbal, e o deputado estadual Ricardo Tripoli - dois outros, o secretário do Meio Ambiente, Bruno Covas, e o de Cultura, Andrea Matarazzo, saíram da parada assim que Serra entrou -, ele não obteve mais de 52% dos votos. Ou, em números absolutos, tão somente 256 votos a mais do que a soma dos sufrágios recebidos pelos candidatos remanescentes.
PUBLICIDADE
Para quem já concorreu duas vezes à Presidência da República e quatro ao governo da cidade, entre outros prélios, e contou agora com o engajamento ostensivo do governador Geraldo Alckmin e do seu secretariado, mais o apoio do ex-presidente Fernando Henrique, tal desfecho foi a proverbial vitória de Pirro, sem tirar nem pôr. O resultado parece espelhar as pesquisas segundo as quais 30% dos paulistanos querem ver Serra prefeito e outro tanto não quer vê-lo nada.
Antes de contados os votos, os serristas falavam de boca cheia numa vitória consagradora por 70% ou mesmo 80% do total. Mesmo que prognósticos desse tipo sirvam antes para motivar a militância do que como antecipação baseada em tendências verificadas, os seus propagadores não tiveram como disfarçar o gosto amargo que passaram a sentir. Na hora de votar, Fernando Henrique teve o azar de dizer que o previsível êxito de Serra na prévia seria "meio caminho andado" para o triunfo no Município, em outubro. Não porque, a esta altura, haja quem ameace o seu favoritismo - ou porque seja o caso de duvidar que, na pior das hipóteses, ele estará no segundo turno. Mas porque, surpreendentemente talvez, Serra só andou meio caminho para unir o partido em torno do seu nome - dando aos seus adversários no ninho a satisfação secreta de ver confirmada ainda uma vez a sua fama de desagregador.
Embora, como dizem os americanos, nada é tão bem-sucedido como o sucesso, a eventual recondução de Serra à Prefeitura da capital provavelmente não bastará para aprumar o PSDB, fracionado por rivalidades entre as suas principais figuras, nenhuma delas capaz, como tornou a ficar escancarado anteontem, de despertar da modorra e da indiferença os filiados cuja fonte de entusiasmo partidário não seja o contracheque do setor público ao fim de cada mês. De mais a mais, o retrospecto como que obriga a agremiação a ganhar mais uma eleição na capital do Estado, onde dá as cartas já lá se vão 18 anos. A questão de fundo é que, desde a perda de seu principal líder em São Paulo, Mário Covas, falecido em 2001, o PSDB paulista não conseguiu obter vitórias políticas à altura de suas conquistas eleitorais. E para estas contribui o fato de ser a legenda a receptora por excelência do voto útil dos que aceitam tudo, menos o PT no poder.
Isso explica, por exemplo, porque Serra - tendo ignorado o "papelzinho" que assinou em 2004, prometendo cumprir até o fim o mandato, caso eleito prefeito paulistano - ainda assim teve mais votos na cidade no pleito para governador, em 2006, do que na disputa precedente. Repetiu a dose na presidencial de 2010, depois, aliás, de uma campanha na qual, para variar, marginalizou o PSDB.