Estímulo a investimentos não depende só do governo 03/04/2012
- O Estado de S.Paulo
O governo prepara medidas para socorrer a indústria e, fundamentalmente, estimular os investimentos privados. O resultado dependerá, é claro, de as empresas responderem bem a esses incentivos.
Isso porque a decisão de investir depende de três condições básicas, que precisam ser analisadas dentro da conjuntura atual: existência de um mercado; rentabilidade do investimento; e financiamento a um custo aceitável.
Nos últimos anos testemunhamos um robusto crescimento da demanda interna, porém não acompanhado pela indústria nacional, que verificou que uma taxa cambial excessivamente valorizada tornava mais rentável importar os produtos ou seus componentes e proceder apenas à montagem final no Brasil, aproveitando a mão de obra relativamente barata.
PUBLICIDADE
Parece não haver dúvida de que a demanda continuará crescente, podendo ser contida apenas pela elevação do endividamento das famílias e pela manutenção de uma taxa de juros ainda muito alta.
Porém os consumidores estão impondo duas exigências: preço não muito maior que o do produto importado e alto conteúdo tecnológico.
A política protecionista que o governo está adotando poderá aproximar os preços dos bens importados daqueles produzidos internamente. Mas, para o conteúdo tecnológico, há que se realizar muito investimento na inovação, e isso não depende apenas de recursos financeiros.
Já a rentabilidade dos investimentos suscita uma questão delicada: os salários aumentaram muito, em comparação com os de outros países emergentes (China e México, por exemplo), em razão da alta do salário mínimo e da escassez de trabalhadores especializados, acentuando o desnível entre salários e produtividade.
Nessas circunstâncias, os produtos fabricados no Brasil estão cada vez mais caros - fator favorável à continuidade da importação, e com infraestrutura bem desenvolvida.
Neste quadro, mesmo o financiamento mais barato perde força. Não nos esqueçamos de que as grandes empresas estavam habituadas a ir buscar recursos no mercado internacional, a um custo mais barato e sem risco cambial, diante da valorização constante da moeda nacional.
Atualmente, essa vantagem pode desaparecer, mas o custo do crédito continuará ainda elevado. Não é apenas o setor privado que tem de realizar investimentos, mas também o setor público, na infraestrutura, que permitiria reduzir os custos dos produtos nacionais.