Pecado capital 07/04/2012
- Eduardo Maluf - O Estado de S.Paulo
Como escreveu Ruy Castro em coluna recente na Folha de S.Paulo, não é possível abrir página esportiva ou ligar a TV sem ler ou ouvir o nome de Messi. Às vezes pode soar cansativo, é verdade, mas o culpado de tudo isso é o próprio argentino. O rapaz quebra recorde atrás de recorde, faz barbaridades com a bola e lidera um fantástico Barcelona em conquistas incríveis com futebol de encantar até os "madridistas".
Não preciso repetir tudo o que dizem a respeito desse gênio, nem relembrar seus feitos. Quero apenas aproveitar os espíritos desarmados da Semana Santa para expor uma impressão que tenho há alguns anos, talvez polêmica. No Brasil, ousar dizer que algum jogador pode se igualar a Pelé parece pecado. Quase ninguém faz esse tipo de afirmação por aqui.
Aprendemos cedo na escola que Pelé foi o maior de todos e sempre o será, independentemente do que venha a ocorrer. Está escrito nos livros de história da bola, tornou-se uma espécie de lei no País do Futebol.
PUBLICIDADE
Meu avô Bichara, fã incondicional do Rei, deve estar lendo esta coluna lá de cima com uma ponta de preocupação. Ele acompanhou sua carreira e afirmava que Pelé fazia coisas inimagináveis com a bola, era insuperável. Ele e outros milhões... Infelizmente, só pude vê-lo em campo por videoteipe. O pouco que vi, porém, foi suficiente para ter certeza de que nunca exageraram ao descrever suas qualidades.
Messi tem 24 anos e, se tudo correr bem, vai jogar mais uns dez. Ninguém deve se atrever a afirmar que ele é do nível de Pelé - e eu não serei diferente. Sua carreira ainda está longe do fim, muita coisa virá. Na seleção, por exemplo, nunca brilhou como o Rei. Só acho que não há crime em pensar que Messi pode perfeitamente atingir o degrau de Pelé, encerrar sua vida profissional como o maior jogador de todos os tempos ao lado - ou até acima - do brasileiro (com uma ressalva óbvia: nenhuma comparação será precisa com personagens que atuaram em períodos tão distintos).
A frequência com que La Pulga faz jogadas geniais é algo inédito para mim. A meu ver, nenhum craque do porte de Ronaldo, Ronaldinho, Zidane, Zico, Careca, Sócrates, Van Basten e até Maradona alcançou a regularidade de Messi. Carlos Drummond de Andrade dizia: "O difícil não é fazer mil gols como Pelé. O difícil é fazer um gol como Pelé". A frase pode ser adaptada ao argentino, embora, até agora, ele tenha feito "só" 300.
Messi marca muitos gols contra times fracos, é verdade. Mas Pelé não enfrentou só grandes adversários. E, justiça seja feita, Messi tem brilhado muito contra clubes poderosos, como Milan, Real, Manchester e... Santos. Hoje a tecnologia do esporte ajuda, sem dúvida. Mas ela não está apenas à disposição do atacante. Seus marcadores também desfrutam dela.
Para alcançar a consagração completa, só lhe falta repetir os malabarismos do Barcelona com a camisa argentina. E sua grande oportunidade será em 2014, justamente aqui, na casa do Rei.