Mistério Ronaldinho 08/04/2012
- Marcos Caetano - O Estado de S.Paulo
A semana se encerra com notícias tristes sobre dois jogadores que já encantaram o mundo do futebol e que, tendo retornado ao Brasil depois de fazer história na Europa, tinham tudo para atrair multidões aos estádios. Estou falando de Ronaldinho Gaúcho e Adriano. O primeiro, após uma participação tristonha na fase de grupos da Libertadores, voltou a ser questionado por boa parte da torcida do Flamengo, situação que o estaria fazendo pensar em rescisão de contrato. O segundo, fará nova cirurgia no tendão de Aquiles e cogita encerrar a carreira.
Os dois craques, numa faixa etária em que os jogadores costumam atingir o apogeu das carreiras, poderiam marcar uma espécie de renascimento do futebol de clubes no Brasil. Mais, tinham tudo para brilhar na seleção brasileira e servir de referência para os jovens convocados, numa fase de renovação do nosso time. Infelizmente, essas extraordinárias possibilidades jamais chegaram a se confirmar - e hoje Ronaldinho e Adriano estão mais próximos da aposentadoria do que da consagração na Copa de 2014.
É um mistério o que faz jogadores em relação aos quais - ao menos no caso de Ronaldinho - poderíamos usar o adjetivo genial sem medo de exagerar, perder o interesse por sua arte de forma tão precoce quanto abrupta. Ao longo da história, muitos artistas tiveram bloqueios criativos ou entraram em decadência após terem produzido suas obras-primas. Mas eu imaginava que no esporte a lógica poderia ser outra.
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No esporte, pensava eu, só a decadência física ou sérios problemas psicológicos poderiam impactar a performance. O final de carreira de um virtuose como Garrincha exemplifica a primeira hipótese. O caso de Adriano, com claro fundo psicológico, confirma a segunda. No entanto, onde poderíamos encaixar o caso de Ronaldinho? O gaúcho, para mim, é o maior mistério do futebol dos nossos tempos. Fisicamente, nada parece haver de errado. Na verdade, o atleta me parece até mais esguio do que nos tempos áureos de Barcelona. Nenhum exame fisiológico apresentou algum sinal de alerta sobre o jogador, que pouco se contunde e não demonstra possuir desgastes crônicos de músculos ou articulações. Pelo lado psicológico, nada mais comum do que vermos o famoso sorriso cheio de dentes de Ronaldinho estampando as páginas dos jornais. O sujeito parece ser um poço de alegria, sempre cercado de amigos dos mais variados tipos. Sem dúvida, comete exageros nas baladas, mas quantos craques mundo afora fazem o mesmo sem perder tanta qualidade dentro de campo?
Insisto: o que aconteceu com o genial futebol de Ronaldinho, de 2006 para cá, é algo absolutamente insondável. Minha avó não hesitaria em classificar o processo como quebranto. Eu tendo a falar em fastio. Mas, ao vê-lo se divertindo com a bola nos pés, fico com profunda impressão de que aquele cara simplesmente ama jogar bola. É diferente de Adriano, que sempre me pareceu triste, mesmo dentro de campo. Aí volto à estaca zero, à pergunta que não quer calar: qual é o mistério de Ronaldinho? E então sinto um enorme calafrio. Um calafrio que tem a ver com outra assustadora pergunta: será que isso acontecerá um dia com Messi e Neymar? Pé de pato, mangalô, três vezes!