Sem garra para exportar 16/04/2012
- O Estado de S.Paulo
O Brasil conquistou em 2011 o posto de sexta maior economia do mundo, ultrapassando o Reino Unido, mas continuou em 22.º lugar entre os exportadores de mercadorias, muito longe das potências comerciais mais dinâmicas. Permaneceu atrás da China e dos grandes líderes do mundo capitalista - Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Japão -, mas continuou perdendo a corrida também para países de industrialização recente, como Coreia, Cingapura, Taiwan, México e Índia. Apesar do aumento de suas vendas externas, sua participação nas exportações mundiais ficou em 1,4%, menos de metade da coreana (3%) e bem abaixo da participação da pequena Bélgica (2,6%). Essa classificação, divulgada quinta-feira passada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), reflete muito mais que o baixo dinamismo da economia global e os efeitos cambiais do tsunami monetário denunciado insistentemente pela presidente Dilma Rousseff e por seu ministro da Fazenda, Guido Mantega.
A cultura da exportação é recente, no Brasil, e isso explica, em parte, a pequena participação do País no comércio internacional. Entre 2001 e 2011 o valor exportado, em dólares correntes, foi multiplicado 4,4 vezes, mas isso foi insuficiente para a conquista de uma participação importante e proporcional ao tamanho da economia. As vendas de outros países também cresceram, mesmo em situações adversas, e só os muito dinâmicos avançaram de forma significativa na classificação. Mas é preciso dar atenção a dois outros pontos, muito mais importantes e muito mais preocupantes neste momento.
Em primeiro lugar, a indústria brasileira tem mostrado crescente dificuldade para disputar espaços no mercado internacional e até para manter posições no mercado interno. Não por acaso o Brasil avançou um posto na classificação dos importadores, chegando ao 21.º lugar. Sem a importação, o dinamismo do mercado interno, tão decantado pelas autoridades, acabaria resultando apenas em mais inflação.
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Em segundo lugar, o Brasil só manteve a 22.ª posição entre os exportadores graças às excelentes condições dos mercados de matérias-primas e bens intermediários, sustentados principalmente pelo crescimento chinês. Sem essa demanda e sem os preços favoráveis, as vendas brasileiras teriam crescido muito menos em 2011.
O efeito da mudança no mercado, com a retração das cotações nos últimos meses, ficou evidentíssimo na modesta evolução da balança comercial no primeiro trimestre deste ano, quando o valor exportado foi apenas 5,8% maior que o de um ano antes. Em contrapartida, o valor importado foi 7,7% maior do que o observado entre janeiro e março de 2011.
É inútil atribuir o medíocre desempenho comercial brasileiro apenas ao câmbio. Nem os empresários acreditam nessa explicação, embora vivam protestando contra a valorização do real. Também é inútil atribuir essa valorização apenas ao tsunami monetário criado pela emissão de dólares, euros e libras, em vez de levar em conta os efeitos dos juros brasileiros, as distorções criadas pelo gasto público excessivo e também, é claro, os atrativos de uma economia ainda em crescimento, num cenário global de baixo dinamismo. Há também, é claro, uma porção de custos absurdamente altos.
O cenário de 2011 deveria ser um estímulo a mais para uma reflexão crítica - e principalmente autocrítica - das autoridades. Ma o cenário prospectivo de 2012 deveria levá-las a pensar em ações muito mais sérias que os pacotes e pacotinhos lançados de tempos em tempos pelo governo. Os economistas da OMC projetam para este ano um crescimento de apenas 3,7% para o comércio global, compatível com uma expansão econômica estimada em 2,1%. No ano passado, o comércio cresceu 5%, segundo a avaliação preliminar, e a produção mundial avançou 2,4%, de acordo com as contas apresentadas no estudo.
O cenário inclui alguma recuperação nos Estados Unidos e no Japão, insuficiente para compensar a estagnação europeia. Não basta combinar mais protecionismo com mais incentivos ao consumo e alguns estímulos a produções selecionadas. É preciso pensar em algo mais sério.