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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O bonde da Embrapa
17/04/2012 - Antônio M. Buainain*

Artigo de Celso Ming, A Embrapa perdeu o bonde, publicado nesta página (1/4/2012), e reportagem do Valor Econômico (Embrapa perde terreno na pesquisa agrícola, 21/3/2012) desencadearam um saudável debate sobre o papel e o futuro da Embrapa. Ming constata que a empresa vem perdendo mercado e aponta que no ramo da inovação "não basta competir" e que "ficar parado é condenar-se à insignificância".

Penso que Ming tem razão ao apontar o risco da irrelevância, mas isso não está associado à perda de espaço nos mercados nem à falta de recursos, mas à falta de rumo. Sobre este assunto o ministro Delfim Netto (Embrapa, Folha de S.Paulo, 11/4) pôs os pontos nos is, com reconhecida contundência e autoridade, afirmando que "a Embrapa não nasceu para competir com o setor privado. Nasceu para inovar, criar e transmitir conhecimentos, usando as empresas privadas como instrumento para disseminá-los". Portanto, não se mede a importância da Embrapa pela produção de sementes, mas pela capacidade de gerar intangíveis, que são o coração da inovação hoje. E é justamente neste terreno que está o risco da irrelevância atualmente em fermentação na Embrapa.

Não é suficiente indicar o orçamento como fonte e solução de problemas cujo enfrentamento requer, antes de tudo, visão estratégica clara para orientar a aplicação dos recursos disponíveis. Vejo que a Embrapa corre o risco da irrelevância porque em muitas oportunidades parece não saber o que é relevante e estratégico e não resiste à tentação de seguir o padrão populista do setor público brasileiro, pulverizando recursos e fragmentando-se em 1.500 atividades, das quais 1.480 são provavelmente irrelevantes e subtraem energias de ações que poderiam ter grande impacto. Muitos embrapianos sustentam que o estratégico seria investir em pesquisa para a agricultura familiar (AF), ignorando todas as evidências de que esse corte não é um determinante do "pacote tecnológico" e que a Revolução Verde viabilizou a sobrevivência de milhões de pequenos agricultores. Definir prioridades com base em critérios polarizadores comumente citados (interesses do mercado e social, público e privado, agronegócio e AF, mercado doméstico e externo, etc.) falsifica a complexidade da sociedade e conduz a falsas opções.


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Isso remete ao risco maior do aparelhamento ideológico, que parece comprometer a capacidade de trabalho e os resultados da Embrapa, ameaçando-a de "rachas" internos paralisantes entre os que se supõem defensores dos interesses da AF, do meio ambiente e dos pobres e aqueles que estariam comprometidos com "os interesses do agronegócio", como se fossem objetivos antagônicos. Vários bondes são perdidos nesses conflitos, alguns difíceis de recuperar, como é o caso do protagonismo na pesquisa de transgênicos.

Nunca perdi uma oportunidade para ressaltar o papel da Embrapa e citá-la como exemplo positivo de política nacional de ciência e tecnologia bem-sucedida, baseada no binômio qualificação de recursos humanos e estruturação da pesquisa vinculada à geração de conhecimento e soluções para a nossa agricultura. É preciso reconhecer que a "defesa da Embrapa" passou por campanhas de valorização institucional que exageraram sua contribuição em detrimento do reconhecimento de outras instituições públicas e da importância do setor privado para o desempenho da agricultura brasileira. Isso se transforma em risco se a própria Embrapa perde a noção de sua real capacidade e se acha capaz de prover soluções tecnológicas de A a Z, desde a produtividade na produção de alimentos, contenção do desmatamento da Floresta Amazônica, bioenergia e genética avançada, da pecuária bovina à apicultura, mitigação dos efeitos das mudanças climáticas até a sustentabilidade da agricultura familiar e a erradicação da miséria no meio rural.

Um amigo embrapiano afirma que muitos bondes estão passando e que o verdadeiro desafio da Embrapa, "urgente e necessário, é se localizar no estado atual do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira, para saber em que bonde subir quando ele passar".

...

ANTÔNIO M. BUAINAIN É PROFESSOR DO INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNICAMP

  

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