Do G-4 ao Z-4 15/10/2012
- Paulo Calçade - O Estado de S.Paulo
Depois de 30 rodadas, bastaram 20 minutos diante do Figueirense para o São Paulo alcançar a faixa de classificação da Taça Libertadores da América pela primeira vez no Brasileiro. O jogo do time de Ney Franco terminou no gol de Douglas, quando ainda havia movimentação, passe e preenchimento do campo ofensivo. Foi o suficiente para vencer. Os outros 70 minutos no Morumbi foram de sofrimento para o torcedor que desafiou o frio e viu a mais pura correria nos extremos da tabela. Do G-4 ao Z-4.
Depois de levar o segundo gol, o Figueirense passou a jogar com a tranquilidade do moribundo rebaixado. Bastava ao São Paulo manter o ritmo, mas a incapacidade de prender a bola no campo ofensivo proporcionou um bate-volta de baixíssima qualidade.
Essa será a principal missão de Paulo Henrique Ganso, deslocar o eixo da equipe. Nem sempre o jogo vertical é o que funciona. Mas o São Paulo não conhece outro, não consegue trabalhar a bola, esperar o adversário lhe oferecer o espaço. Joga num único sentido: bate-volta.
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Coletivamente o Figueirense é uma colagem de preocupações individuais, de jogadores que vão a campo pensando como será 2013. E o que ainda pode ser feito para escapar da Segunda Divisão no ano que vem.
Mas nada se compara ao drama vivido pelo Palmeiras. Depois da derrota para o Náutico, a necessidade aponta para algo em torno de 18 pontos em 24 possíveis. Pode até ser um pouquinho menos, mas o time de Gilson Kleina não dá sinais de poder mais.
A pressão de alguns setores da torcida ruma para um confronto perigoso. Atemorizar os jogadores não vai ajudar em nada a ter números de campeão nas próximas rodadas.
Ainda acreditamos por aqui que apenas a tradição basta. Essa não é mais a realidade do futebol. O exemplo do vôlei nos ensina muito. Há exatos 30 anos, o Brasil perdia a final do Mundial na Argentina para a União Soviética.
A derrota da geração histórica de Bernard, William, Fernandão, Renan, Amauri, Montanaro e Xandó foi o ponto de partida para a inclusão do Brasil entre as potências desse esporte.
O segundo lugar foi, na verdade, uma vitória. Em três décadas, o Brasil construiu sua importância e inventou uma tradição no vôlei, venceu mundiais e tornou-se campeão olímpico.
Essa trajetória tem muito a ver com a situação do futebol, mostra a possibilidade de a história ser reescrita, e que a tradição está aí para ser criada com talento e trabalho correto.
É normal ouvirmos que "não há mais bobo no futebol". A frase acabou se transformando num símbolo da preguiça de quem não aceita a mudança. Esse determinismo não funciona no esporte e serve de alerta para clubes e CBF.
Ninguém apaga a história, mas a tradição pode ser rompida. O Palmeiras precisa trabalhar urgentemente pela reconstrução. Não para escapar do rebaixamento, porque esse parece ser inevitável.