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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

A inflação artificialmente contida voltará em 2013
30/10/2012 - O Estado de S.Paulo

O governo brasileiro, inspirando-se no da Argentina, está para reduzir os dados sobre a inflação recorrendo a medidas condenáveis. Porém de uma maneira mais hábil: ou deixa de reajustar os preços administrados ou recorre à redução de impostos de alguns setores que tenham peso importante no cálculo dos índices.

O mais pernicioso é certamente o caso da gasolina, que, com a alta dos preços do petróleo no exterior, sofreu elevação considerável de custo, que o governo se recusa a transferir para os consumidores, obrigando a Petrobrás a assumir a perda. A consequência é a redução dos investimentos de uma empresa que ocupa, na economia brasileira, importância estratégica considerável. O País, diante das reservas descobertas, deveria cobrir as suas necessidades e tornar-se um grande exportador, contribuindo, assim, para a redução do déficit das transações correntes do balanço de pagamentos. Com a pressão feita pela presidente da estatal, não há dúvida de que o reajuste do preço da gasolina terá de vir. Mas, ao atrasá-lo, o que o governo procura é evitar que a taxa de inflação do ano supere a meta.

Na última prorrogação da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), agora até o fim do ano, não se deu muito destaque à explicação do ministro da Fazenda. Ao apresentar uma medida essencialmente destinada a estimular alguns setores, ele disse que ela visava mesmo a conter as pressões inflacionárias no final do ano, dando a impressão de que a política tributária estaria se tornando um instrumento de controle da inflação.


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Os dois fatos não devem criar uma ilusão. São expedientes que não poderão se manter por muito tempo e que não enganam o público. A gasolina terá de ter seu preço reajustado e o alívio tributário terá de ser revisto. Neste último caso, para um efeito real sobre a inflação, seria necessário que o alívio fosse aplicado a todos os setores.

O governo tem de saber que esse tipo de alívio produz efeito momentâneo sobre os índices de preços, mas exerce uma influência que leva em conta que, mais cedo ou mais tarde, os preços terão de sofrer uma alta. Ou seja, os agentes econômicos começam a se preparar e a fazer provisões para uma alta futura.

O Banco Central já reconheceu que a inflação em 2013 será maior do que neste ano. Existe um carry over que afetará todo o sistema. Em suma, o controle artificial de hoje prepara a inflação de amanhã. Seria muito melhor praticar os preços verdadeiros hoje do que deixar o reajuste para o ano que vem.

  

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