Obras atrasadas para a Copa 16/01/2013
- O Estado de S.Paulo
Há seis anos, a candidatura do Brasil para sediar pela segunda vez na história a Copa do Mundo da Fifa, em 2014, foi apresentada à entidade promotora pela Confederação Sul-Americana de Futebol.
Em 2007, o presidente Joseph Blatter anunciou a escolha ante uma comitiva de governadores, parlamentares e dirigentes esportivos, capitaneada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a festejou como uma ótima oportunidade de negócios e uma excepcional plataforma comercial e propagandística do Brasil para o mundo.
Na ocasião, foi firmada a matriz de responsabilidades dos governos federal, estaduais e municipais, que assumiram a tarefa de acompanhar as obras de arenas esportivas adaptadas às exigências de conforto e segurança para a torcida e fazer obras públicas para facilitar o deslocamento de torcedores para as cidades-sede e seu transporte para os estádios.
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Cinco anos depois, o panorama no que se refere ao cronograma das obras acertadas em comum acordo com os organizadores do torneio é, para dizer o mínimo, constrangedor.
No caso das reformas dos estádios a serem transformados em arenas incluem-se entre os atrasos as obras do local onde será disputada a partida final da Copa, o Maracanã, no Rio de Janeiro.
Após sucessivos atrasos, o governo do Estado do Rio de Janeiro, proprietário do antigo maior estádio do mundo, onde o Brasil foi vice-campeão da Copa de 1950, anunciou que a arena exigida pela Fifa só será entregue em 28 de maio de 2013.
Ou seja, a 19 dias de 16 de junho, para quando foi marcada a partida entre México e Itália, a primeira a ser jogada nele. A 15 dias úteis da estreia, a data é apontada como o limite para que a entidade assuma as seis sedes da Copa das Confederações, a ser disputada um ano antes da Copa do Mundo.
Quanto às obras de mobilidade urbana consideradas necessárias para melhorar o tráfego nas cidades escolhidas para sedes do campeonato, a situação dos organizadores brasileiros é ainda mais embaraçosa: dos 82 empreendimentos acertados há cinco anos, 21 já foram liberados do compromisso em comum acordo com a Fifa.
Como foram acrescentados mais 28, agora há 86 obras em andamento. Tiveram orçamento alterado 25 delas e 33 não cumpriram o cronograma anunciado. Apenas 3 em 82 (3,5%) mantêm orçamentos atualizados e prazos em dia.
Estas reformas concluídas representam cerca de 5% do que estava previsto para ficar pronto até agora: seriam 35 - 9 em 2011 e 26 no ano passado. Mas somente 2 foram entregues, ficando 36 para este ano e 23 para 2014.
Na previsão feita em 2010, só 1 obra seria entregue no ano da realização do torneio. Agora já serão 23.
As obras com atraso mais dramático são as de mobilidade urbana, financiadas pelo governo federal, mas realizadas por administrações estaduais e municipais.
Mas as de exclusiva responsabilidade do governo federal - caso dos aeroportos - também não apresentam um primor de organização e planejamento.
Das 25 obras previstas para aeroportos 8 foram canceladas, mas outras 12 foram incluídas.
De acordo com as contas do governo federal, 9 reformas de aeroportos estão concluídas. Este número inclui, contudo, 4 módulos operacionais, estruturas concebidas para uso provisório.
Também é considerada obra concluída a terraplenagem da área onde será construído o terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos.
A justificativa oficial é de que a Infraero realizou a obra antes da concessão à iniciativa privada. E a Secretaria de Aviação Civil diz que até a Copa o terminal estará pronto.
União, Estados e municípios tentam se justificar culpando decisões judiciais, problemas com licenciamento ambiental, alterações no projeto e a falta, em muitos casos, de projetos executivos.
A desculpa é esfarrapada, pois em 2007, quando o compromisso de responsabilidades foi assinado com a aprovação dos três entes federativos, esses problemas eram previsíveis.
Quando comandou a comitiva que festejou a honrosa escolha, Lula prometeu "realizar a melhor Copa de todos os tempos".
Pelo visto até agora, já será de bom tamanho se o Brasil não protagonizar um vexame sem precedentes na história das Copas.