MP pede explicações a estatal comandada por homem de Dilma 04/02/2013
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja Online
Deixem-me ver… Deve ter acontecido em 1997 — 16 anos já!!! Numa reunião de pauta da revista República, uma editora sugeriu que fizéssemos uma reportagem sobre as entidades não-governamentais, as tais ONGs. Já as havia em bom número, mas ainda não havia essa febre.
Brinquei então: “Só se for em tom de denúncia…” Por quê Incomodava-me já uma particularidade das ONGs no Brasil: a maioria ou era rabicho de um partido político ou trabalhava para governos. Na terra da jabuticaba e da pororoca, temos as Organizações Não-Governamentais que são… governamentais!!!
Eu tenho certas ortodoxias. Um delas é entender que ONG é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que tem de procurar se financiar junto a privados para fazer seu trabalho, independentemente do estado, do governo.
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Só não pode, por óbvio, desenvolver uma militância ou ação que se choquem com políticas públicas submetidas ao controle democrático. Se ONGs começam a trabalhar para governos e a receber por isso, ONGs não são. São empresas. “Mesmo quando dizem não ter fins lucrativos?” Sim. Isso é o de menos.
Pois bem… Não se fizeram nem uma reportagem nem outra. Mas ainda acho que eu estava certo. Por que isso agora? O economista Bernardo Figueiredo, informa o Estadão, escolhido por Dilma Rousseff para comandar a EPL (Empresa de Planejamento e Logística), que é pública, contratou uma ONG, o Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun, para “desenvolver solução tecnológica para gestão de eventos de transporte e monitoramento de ferrovias, rodovias e hidrovias, envolvendo carga e passageiro”. A tal ONG, conta, não visa ao lucro. Parece que é mesmo só amor pela causa do “monitoramento”. O fato é que é o presidente da EPL a contratou sem licitação para um contrato de R$ 32,9 milhões — 13% do Orçamento da estatal para este ano.
O Ministério Público se interessou pelo caso e decidiu cobrar explicações de Figueiredo. A justificativa é a da notória especialização. Então tá bom! A, como é mesmo?, sexta ou sétima economia do mudo tem uma única empresa de logística para tratar desse assunto, e uma estatal, como se sabe, não pensa em nenhuma outra, de nenhum outro país, que possa se interessar pelo caso.
O Estadão informa que o tal centro é comandado pelo físico Dario Sassi Thomer, que mantém outros contratos com o governo federal. Há coisas que nunca saíram do papel. Um projeto apresentado em 2007, num contrato original de R$ 1 milhão, já recebeu quatro aditivos. Olhem aqui: tudo pode estar sendo feito segundo os rigores de uma casta honestidade. Mas não é assim que as coisas funcionam numa República. Acreditar que o Brasil estaria impedido de pensar soluções de transporte não fosse a ONG de Sassi Thomer é uma óbvia ofensa à inteligência.
Não sei que explicação tem a EPL. A que foi apresentada beira o ridículo.