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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Quem matou John Lennon?
09/04/2013 - Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com

Eu acho que foi Mark Chapman. Quem matou o bom senso? Ah, aí já foi uma legião!

Ontem à tarde e à noite, infelizmente, tive alguns problemas relacionados à saúde de familiares (não creio que tenha sido castigo divino) e acabei escrevendo menos do que o habitual — é bem verdade que há quem reclame que o meu “menos” já é muito, hehe…

Quando tive de me ausentar, a grande questão que mobilizava as consciências mais atiladas do Brasil não era o risco de uma eventual guerra na península coreana; se acontecesse, o mundo estaria em perigo.


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Que nada! Isso é pouco para nós. Em Banânia, temos assuntos mais graves, mais sérios, mais urgentes. Por exemplo: será verdade que Deus é o verdadeiro assassino de John Lennon, não o perturbado Mark Chapman?

Segundo o PASTOR — não o deputado — Marco Feliciano, as três balas disparadas pelo assassino tinham o dedo de Deus. Seria uma punição pela ousadia do ex-Beatle, que declarara certa feita que o grupo era “mais famoso do que Jesus Cristo”.

O Senhor, então, zangado por ter perdido a capa da revista “Caras” do Universo Celeste, teria dado um jeitinho. Num vídeo que circula na Internet, diz Feliciano:

“A minha Bíblia diz que Deus não recebe uma afronta e fica impune. Passou um tempo dessas declarações, alguém chama (John Lennon) pelo nome, ele vira e é alvejado com três tiros no peito. Eu queria está lá no dia em que descobriram o corpo, eu ia tirar o pano de cima e ia dizer: “Me perdoe, mas esse primeiro tiro foi em nome do Pai, esse é em nome do Filho, e esse é em nome do Espírito Santo. Ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar”.

Também o acidente aéreo que vitimou a banda Mamonas Assassinas, em 1996, teria sido uma vingança divina. Diz Feliciano:

“O avião estava no céu, região do ministro do juízo de Deus, lá na serra da Cantareira. Ao invés de virar para um lado, o manche tocou para o outro. O anjo pôs o dedo no manche, e Deus fulminou aqueles que tentaram colocar palavras torpes na boca das nossas crianças (…) Quem era o Dinho? Era da igreja Assembleia de Deus em Guarulhos. Vendeu a comunhão dele (…). Se vendeu ao Diabo pelo vil dinheiro”.

Boçalidades!

É claro que se trata de duas boçalidades. Ainda bem que Feliciano advertiu: “Na minha Bíblia…”. Essa Bíblia que escolhe um delinquente para anjo vingador ou que faz o piloto errar um comando do avião não poderia ser mais pessoal. É a “bíblia feliciana”, mais do que minúscula.

Se Deus operasse as coisas desse modo, o pastor poderia explicar por que o Altíssimo se incomodaria com um cantor e com uma banda de Guarulhos, mas permite que o ditador do Sudão continue a matar livremente seus adversários. Ou por que não pune os assassinos da Síria. Ou não se vinga dos que põem drogas na mão de crianças.

Essa noção da intervenção punitiva de Deus, do modo como vai acima, se realmente convicta, é só estúpida. Mas tenho cá pra mim que ele próprio não se leva a sério quando diz essas porcarias.

A “bíblia de Feliciano” pode até conceder com assassinos fazendo a vontade de Deus. Lamento pelos que acreditam nas suas palavras. Mas nada pode ser feito a respeito.

Muito pior seria um país com uma legislação que estabelecesse o que pode e o que não pode ser falado nas igrejas. Os chineses criaram até um catolicismo à moda da casa…

O aspecto mais difícil da democracia

Eis o aspecto mais difícil da democracia. Ela existe também para os tolos, para os que dizem cretinismos, para os idiotas. Todas as formas até agora tentadas para reduzir o regime democrático à esfera dos bons resultaram em ditaduras asquerosas, de esquerda e de direita.

Agora a parte ainda mais chocante. “Um sujeito que diz essas coisas sobre John Lennon ou sobre os Mamonas Assassinas pode presidir uma comissão da Câmara, ainda mais de Direitos Humanos e Minorias?”

Pois é. Pode! Até porque ele falou essa bobajada num culto religioso, num ambiente apenas relativamente público — já que privado dos fiéis que lá estavam.

Se e quando o deputado Feliciano afirmar, na Câmara, que Deus escolhe assassinos para fazer justiça, eu mesmo me encarregarei de redigir uma petição pedindo a sua cassação. Porque, aí sim, teremos um homem público atribuindo a um homicídio a intervenção divina.

Eu já escrevi aqui umas 300 vezes que jamais votaria em Feliciano — para deputado ou para presidir a Comissão de Festinhas de Aniversário da Câmara; imaginem, então, para a de Direitos Humanos.

Ele só está lá em razão da cupidez do PT e do PMDB, que preferiram ficar com o filé mignon das comissões, largando a carne de pescoço para os partidos menores.

O fato de as declarações do “Feliciano pastor” revirarem o meu estômago — e reviram! — não me autoriza a meter o pé na porta de uma comissão da Câmara.

Imaginem se filmarem as reuniões de petistas e botarem no YouTube. Pensemos em nós mesmos: tudo o que falamos privadamente, mesmo tomando um chope com os amigos, pode ir para a rede? Quem não se lembra deste vídeo, por exemplo?

“Ah, Lula estava brincando!” Claro que sim! Mas e essa fala na boca de Jair Bolsonaro ou do próprio Feliciano?

O economista americano Walter Williams, que é negro, sintetizou muito bem a questão numa entrevista à VEJA:

“É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.

Bingo!


  

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