Noite dos milagres 17/04/2013
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
No Bom Retiro dos tempos de cadeiras na calçada, para bate-papo de fim de tarde e atualizar notícias do bairro, as comadres e os nonnos costumavam dizer, com gravidade, sempre que alguém precisava alcançar um objetivo complicado: "Ajuda-te, que Deus te ajuda." Não era preciso acrescentar uma vírgula, pois todos entendiam a mensagem.
Lembrei-me da sabedoria rústica dos imigrantes ao olhar o tamanho do desafio do São Paulo, na noite de hoje, no clássico com o Atlético Mineiro, no Morumbi. A turma do Ney Franco está em saia mais justa do que a das moças de salão de automóvel e se enfiou numa sinuca de bico de deixar aflito o Carne Frita, lendário rei do pano verde. Não só tem de ganhar do melhor time da primeira fase da Libertadores como torcer por combinação que o favoreça no duelo palpitante entre Arsenal e The Strongest, essas potências sul-americanas.
Vi muito tricolor disposto a garantir velas e orações para santos de devoção, a começar pelo patrono do clube e enveredar por Santo Expedito, São Judas... Há romarias previstas para Aparecida, desde que seja obtida a vaga para as oitavas de final. A fé faz bem, no mínimo por manter esperança quando tudo parece perdido. E consola nas frustrações. Portanto, nada contra recorrer à ajuda divina - o pessoal lá de cima gosta de futebol.
PUBLICIDADE
Mas não adianta deixar tudo nas mãos de Deus e do padre Cícero. É preciso que o São Paulo cumpra a parte que lhe compete e que não soube executar na maioria das cinco rodadas anteriores. O time se enroscou e está por um fio ao perder as três partidas como visitante e, de quebra, empatar com os argentinos em casa. Campanha decepcionante para um elenco de boa qualidade. A desgraça não se tornou irreversível por antecipação, porque o Atlético-MG disparou, surrou todo mundo e assim equilibrou a corrida pelo segundo lugar.
O São Paulo pode entrar em campo de mãos dada, orar no centro do campo e usar fitinha do Senhor do Bonfim. Só que tem de jogar bola - muita -, com uma vontade inédita até agora na temporada. Nada de vir com a conversa mole de que a calma é fundamental, de que as coisas vêm no momento certo. A hora é de adrenalina, suor, empenho, para contagiar atletas e se espalhar pelas arquibancadas. O torcedor deu a contribuição, com mais de 40 mil ingressos vendidos, e espera o sinal do campo.
Não há fórmula mágica para derrubar rival em fase esplêndida. Há alternativas a serem tentadas. Uma delas é neutralizar Ronaldinho Gaúcho, do qual surgem as principais jogadas da equipe. Com isso, teoricamente, ficam em dificuldade Jô e Diego Tardelli. Outra é segurar as descidas dos laterais, além de cuidado obsessivo em bolas paradas e preparadas para as cabeçadas certeiras do zagueiro Réver.
Simples, não? De maneira nenhuma. A sintonia faz fluir o jogo do Atlético. De sobra, existem jogadores que executam funções táticas à perfeição e sem alarde, como Pierre, volante ignorado pelo Palmeiras tempos atrás e que ressurgiu em Minas.
O São Paulo terá ainda de superar ausência de Jadson e Luis Fabiano, fora soluções de última hora que Ney ainda procura. Noite pra rezar brava.
Novidade 1. - Presidentes de Federações, reunidos ontem no Rio, aprovaram por unanimidade as contas da CBF em 2012. Que voto de confiança!
Novidade 2. - Consórcio liderado por empresa de Eike Batista apresenta proposta superior à do concorrente para administrar o Maracanã. Puxa!