O dimenor do continente 02/05/2013
- Blog de Augusto Nunes - Veja.com
Durante a sessão convocada para aprovar a arbitrariedade decretada por Cabello, adversários do chavismo protestaram com gritos, assobios e uma faixa com os dizeres “Golpe al Parlamento”.
A manifestação desencadeou a fúria da bancada majoritária, origem da troca de socos qu resultou em pelo menos sete feridos ─ todos oposicionistas. A deputada Maria Corina Machado, por exemplo, foi hospitalizada com uma fratura no nariz. Mas as vítimas da agressão não capitularam.
“Podem nos colocar na cadeia, podem nos matar, mas princípios não se vendem”, avisou o deputado Julio Borges. “Vamos continuar participando da Assembleia Nacional”, emendou o deputado da oposição Carlo Ramo no Twitter. “Vão nos tirar feridos ou como quiserem, mas vamos continuar presentes”.
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Tampouco o ex-militar Cabello, um velho devoto do cadáver insepulto que de vez em quando vira passarinho, admite a hipótese do recuo. Com o cinismo habital, atribuiu as agressões às próprias vítimas da violência.
Previsivelmente, o governo brasileiro continua acompanhando com cara de paisagem a marcha para a ditadura.
Para os arquitetos da política externa da canalhice, inaugurada por Lula e encampada por Dilma Rousseff, parceiros ideológicos são inimputáveis.
Tão feroz com o Congresso paraguaio, que aprovou o impeachment do canastrão Fernando Lugo sem arranhar a Constituição, o Planalto não vê nada de mais nos sucessivos pontapés no Estado de Direito desferidos pelos gerentes do espólio do bolívar-de-hospício.
Na semana passada, o chanceler Antonio Patriota reiterou que não consegue enxergar a rotina de anormalidades.
“O presidente Maduro tem respeitado as normas constitucionais”, miou. (No clube dos cafajestes cucarachas, gato e passarinho se entendem). ”E todos devem submeter-se aos resultados da eleição presidencial”.
Os comunistas à brasileira que infestam o coração do poder têm muito apreço pelo resultado oficial da eleição, desde que o vencedor seja um companheiro.
Em fevereiro de 2010, por exemplo, multidões inconformadas com as patifarias que viciaram a escolha do presidente expuseram-se nas ruas do Irã à truculência do Exército regular e à cólera das milícias a serviço dos aiatolás.
O mundo civilizado comoveu-se com a coragem das multidões de manifestantes anônimos. Lula enxergou algo parecido com um jogo de futebol.
Primeiro, comparou os atos de protesto à reação de torcedores que não aceitam a derrota do time. Depois, exigiu respeito ao placar criminosamente adulterado.
Nos meses seguintes, oposicionistas que não seguiram o conselho de Lula foram torturados e mortos. O estadista brasileiro não viu nada demais. No fim do ano, recepcionou Mahmoud Ahmadinejad com honras de estadista.
O respeito pelos resultados oficiais é prontamente revogado se o vitorioso não pertence à seita.
Em outubro de 1998, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso impôs a Lula outra surra nas urnas, de novo no primeiro turno.
Mal iniciara o segundo mandato quando o deputado federal Tarso Genro, em nome do partido, propôs a deposição do presidente reeleito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
“Fora FHC!”, berrava a palavra de ordem que o golpista militante tentou justificar num artigo publicado em janeiro de 2009 pela Folha de S. Paulo.
“O presidente está pessoalmente responsabilizado por amparar um grupo fora da lei, que controla as finanças do Estado e subordina o trabalho e o capital do país ao enriquecimento ilegítimo de uns poucos”, delirou o agora governador gaúcho, que sempre viu com muito entusiasmo o progressivo desmonte do Estado de Direito na Venezuela.
Como Tarso Genro, o governo brasileiro vê no regime bolivariano um bom companheiro. E trata o chavismo como se fosse menor de idade: pode cometer qualquer crime sem medo de ser punido.