A cobra vai fumar. Qual? 08/05/2013
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Há expressões populares de ironia simples e definidora. Essa do título da crônica de hoje vem de longe, salvo engano da época do embarque da Força Expedicionária Brasileira para a Itália, quando se dizia que era mais fácil uma cobra fumar do que o país entrar na guerra. Dali em diante, passou a significar que o clima sempre esquenta quando dois adversários se topam. Ou seja, o bicho vai pegar...
E está com jeito de jogo bom e animado este Atlético-MG x São Paulo, programado para o Independência. Ambos se enfrentaram três vezes na edição atual da Libertadores, com vantagem para os mineiros: 2 a 1 na ida, na fase de grupos, e 2 a 1 de virada na semana passada, no Morumbi. O São Paulo fez 2 a 0 na última rodada da etapa anterior do torneio.
Monotonia não houve nos clássicos prévios - por isso, é justo imaginar-se no mínimo a repetição de duelo com ritmo forte para a noite. Nem há como ser diferente, pelas características das equipes e pelas circunstâncias da partida. O Atlético joga solto, é atrevido e criativo. Não foi por acaso o melhor participante da primeira parte da competição, e conta com jogadores com poder de definição. O São Paulo, mesmo com baixas significativas, volta e meia se arrisca a ir pra cima e pressionar, embora nem sempre consiga sustentar a cadência por muito tempo.
PUBLICIDADE
Sobretudo, é decisão em Belo Horizonte. Não há meio-termo, um dos dois cairá fora do caminho do título; portanto, nem tem como levar em banho-maria. A bola está com o Atlético, que anda em paz consigo e com a torcida. Fato. O conjunto montado por Cuca repete a harmonia do Corinthians de 2012, com o requinte de contar com Ronaldinho. Mas não só o gaúcho: também desequilibram Diego Tardelli, Jô e Bernard, ainda um tanto retraído por contusão no ombro, mas que joga muito. Defesa e restante do meio de campo são seguros e experientes. Dá gosto de acompanhar o Galo.
Não se comete exagero ao se detectar o melhor Atlético dos últimos anos. Time com cara de campeão - ou, no mínimo, com perfil de quem vai longe, sem tremer. Até agora não tem decepcionado, apesar de prognósticos reservados após a derrota para o São Paulo. Se supôs que entraria abalado para o novo tira-teima, diante do mesmo rival, nesta fase de eliminação direta. Ganhou e está com um pé nas quartas.
Também vale fazer justiça ao São Paulo: a turma de Ney Franco começou a toda, ficou logo em vantagem (com Jadson) e só Ademilson (que substituiu Aloísio) desperdiçou duas chances benditas. O espetáculo que poderia desembocar em goleada pro pessoal da casa deu uma guinada brusca com a expulsão sonsa de Lúcio, antes do intervalo. O zagueiro xerife lascou pernada pra desmembrar o Bernard - e espanou o Tricolor. Se o Atlético forçasse a barra, a desgraça seria maior.
Dano irreparável? Condenação irreversível? Não creio. Por respeito, constatação e sensatez, é leviano cravar que o São Paulo foi pro espaço. Ninguém perde de véspera - exceto se cair em alguma maracutaia de bastidor. Não é o caso dos dois.
O São Paulo precisa valer-se do repertório e da tarimba de Rogério Ceni - não só nas defesas (só não vale adiantar-se nos pênaltis), mas nas bolas paradas também. Além de Denilson, Jadson, Ganso e de Luis Fabiano, que retorna depois de suspensão. Os dois últimos ficaram em dívida, pelos erros nas penalidades no domingo. Fica a dúvida em torno de Osvaldo, ultimamente o mais eficiente, veloz e ousado da equipe.
Complicada a missão são-paulina, porque lhe pesam sobre os ombros a desconfiança da torcida, as oscilações, as baixas provocadas por contusões, a cobrança interna dos dirigentes. E, principalmente, porque terá diante de si um obstáculo de grosso calibre. Não pode entrar derrotado - na hipótese menos vibrante, tem de acreditar na devolução dos 2 a 1 e nos pênaltis (ai, ai!). Certo é que a cobra vai fumar a partir das 22h. Pra qual lado? Sei lá, ô meu! Trem doido demais, sô!