Fogo pelas ventas 21/06/2013
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Em 2 semanas, protestos somam dezenas de feridos e um morto. A crise atinge Dilma em cheio. Incompetência tem ao menos 2 faces: Gilberto Carvalho e José Eduardo Cardozo, que têm de ser demitidos com desonra. Titular da Justiça tentou fazer baixa política em SP e ajudou a incendiar o país.
A presidente Dilma Rousseff está soltando fogo pelas ventas. Sente-se traída por alguns dos incompetentes que a cercam. Duas figuras se destacam: José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, e Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. A depender do rumo que tomem as coisas, não é apenas a reeleição da presidente que está ameaçada, mas a sua candidatura. Como já lembrou Carvalho certa feita, o PT tem Lula no banco, que sempre pode ser escalado. Se Dilma despencar e se a saúde do ex permitir, por que não chamar de volta o demiurgo? Mas cuido de Carvalho daqui a pouco. Quero dar destaque a este senhor.
Cardozo resolveu que poderia brincar com fogo. Saiu torrado
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Costumo chamá-lo de Cardozo, o Garboso. Ele sempre tem um jeito muito sério de falar, com a voz empostada, afetando guardar graves e profundos pensamentos. Também gosta de se fingir de um petista diferente, mais sofisticado, que se distancia da turma da pesada. O seu papel nessa crise, especialmente do dia 13 deste mês até hoje, escreve uma das páginas mais vergonhosas vividas pelo Ministério da Justiça. E olhem que, fazendo um retrospecto, não é fácil disputar a liderança desse ranking. Cardozo teve concorrentes de peso no passado. Mas ele conseguiu superar a muitos na ruindade, seja pelo mérito da estupidez que fez, seja pelas consequências — que foram explodir onde muitos não esperavam: no colo de Dilma.
Os protestos contra as tarifas de ônibus começaram a ganhar corpo em São Paulo, onde esse estupefaciente Movimento Passe Livre (MPL) — um dos líderes já é quase um vovô, mas se fantasia de estudante alternativo — é mais forte. Como a repressão à baderna é tarefa do governo de São Paulo, o prefeito Fernando Haddad se escondeu — como se hábito — e largou a batata quente na mão do governador. Nota: o tal MPL sempre foi aliado do PT. O partido é que lhe deu visibilidade, que fez a sua pauta aloprada parecer razoável.
O protesto do dia 13 de junho marcou um ponto de inflexão nessa história, que passou a contar com novos marcos na segunda, dia 17. Explico tudo direitinho. As manifestações anteriores lideradas pelo Passe Livre já vinham se caracterizando por vandalismo e violência. As imagens não mentem. Há fotos aos montes. No dia 11, um policial foi linchado. Ônibus oram depredados. Os vândalos espalhavam fogo e lixo por onde passavam, paralisavam a cidade. Só O GOVERNADOR GERALDO ALCKMIN PROTESTAVA. Silêncio em Brasília. Silêncio na Prefeitura de São Paulo. Silêncio no petismo.
No dia 13, a tropa de choque negociou com os manifestantes e estabeleceu: não era para subir a Consolação e ganhar a Paulista. Mas quê… Os valentes resolveram afrontar a força especial. Não reconheciam a autoridade da polícia. Exigiam exercer o seu suposto direito de rasgar o Artigo V da Constituição. Ao tentar furar o bloqueio, o confronto começou. E o resto é história. Alguns jornalistas ficaram feridos, criou-se o mito de que os policiais perseguiam a categoria na ruas — na verdade, repórteres eram e são permanentemente hostilizados pelos manifestantes —, e Elio Gaspari decretou: a culpa é da polícia. Se Aiatoelio falou, a fatwa contra a PM está decretada. Ali começava o outono da anarquia no Brasil. Mas tratarei desse particular em outro post. Quero voltar a Cardozo.
Eu estava voltando do Rio quando o pau estava comendo em São Paulo. Tinha participado de um debate sobre imprensa e impunidade no Clube Militar, com a ministra Eliane Calmon, do STJ, o economista Rodrigo Constantino e o professor Marcus Fabiano, da Universidade Federal Fluminense. Tão logo saí do avião, 19h20, pulou um SMS na tela, da minha mulher: “Não venha pra cá. Caos. Confronto. Higienópolis está cercado”. E aí passei a monitorar a coisa pelo celular, perambulando pelo aeroporto, misturando fome, raiva, vontade de fumar (tinha acabado de sair de uma pneumonia), indignação com o fato de uma pauta estúpida, absurda mesmo!, paralisar a cidade. E então caiu lá uma notícia; José Eduardo Cardozo, o caridoso, oferecia “ajuda” a Alckmin. Como??? Ajuda de Cardoso???
Consegui falar com secretários do governo. Perguntei o óbvio: “O ministro ligou para o governador? Ofereceu ajuda pessoalmente? O que disse Alckmin?”. E fiquei sabendo, então, que este estupefaciente ministro, que este absurdo ministro, que este incompetente ministro, com notável cara de pau, havia oferecido ajuda por intermédio da imprensa. Pré-candidato do PT ao governo, o titular da Justiça se aproveitava, mais uma vez, de uma situação difícil em São Paulo para tirar uma casquinha, para fazer proselitismo, para fazer baixa política. Ele jamais perdeu a chance de prejudicar o povo paulista para cuidar de interesses partidários. Cito as vezes em que optou pela chicana, não pela resposta de homem de estado: 1) desocupação da Cracolândia; 2) desocupação do Pinheirinho; 3) desestabilização do ex-secretário de Segurança Antonio Ferreira Pinto.
Atenção! No dia 9 de junho, antes de o mundo cair na cabeça de Dilma, Cardozo já havia concedido uma entrevista ao Estadão atacando o governador de São Paulo. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) reagiu à sua estranha oferta do dia 13. Pois bem: o jornal amanheceu no dia 17 deste mês, data em que São Paulo deveria assistir ao “big one” das manifestações (com muitos petistas apostando no caos para atingir Alckmin) com mais uma entrevista do ministro. Não hesitou: atacou severamente a PM de São Paulo, acusando-a de truculenta, sugerindo que era despreparada. Sabem quais polícias ele usou como exemplo positivo? A do Rio e a de Brasília. Bem, vocês viram o que aconteceu nesta quinta nessas duas praças. E não! Não foi por culpa dos policiais — de São Paulo, do Rio, do DF ou de qualquer outro lugar. A culpa é dos vândalos.
Atenção, leitores! Faz quatro dias, o sr. José Eduardo Cardozo achava que se tratava de um problema paulista e que a PM deste estado não sabia lidar com o povo. Ele, definitivamente, não estava entendendo nada. Mas alguma coisa naquela segunda já estava fora da ordem imaginada pelo PT, e só as Carolinas do Planalto não viram. O protesto em São Paulo foi realmente grande — reuniu 65 mil pessoas —, mas o do Rio, com metade da população, juntou 100 mil. Alguns tontos chegaram a anunciar que os manifestantes cariocas marchavam em apoio aos de São Paulo. Bobagem! Não era, não. Que se lembre: os petistas mobilizaram seus aparelhos sindicais e deram a ordem: era para tomar as ruas da capital paulista. Estavam, literalmente, brincando com fogo.
Dilma, lá no Palácio, que anunciara havia dias o seu programa para a compra de sofá e geladeira, achava que tudo caminhava bem. O seu ministro da Justiça endossara, na prática, as palavras de ordem contra a polícia que passaram a ser recitadas pela imprensa do país inteiro. Aí, meus caros, as portas do caos estavam abertas — ainda farei um texto específico sobre a absurda demonização das Polícias Militares que tomou conta do jornalismo brasileiro.
Com o país iluminado pelas chamas dos vândalos e casos de depredação em quase todas as capitais e algumas grandes cidades, Cardozo engoliu a sua grande língua e suas palavras irresponsáveis. Desapareceu. Não ofereceu ajuda a mais ninguém. Parou de atacar as Polícias Militares. Silenciou.
Gilberto Carvalho
Este senhor é responsável pela interlocução com os chamados movimentos sociais. Também é um notório depredador da ordem em São Paulo. Também ele, a exemplo de Cardozo, não perdeu uma só chance de atacar a Polícia Militar e o governo do Estado. Atenção! Um assessor do ministro tem as digitais na confusão acontecida na desocupação do Pinheirinho. O nome do valente é Paulo Maldos, que é também a mão que balança o berço no caso de uma outra “revolta”, a indígena. Já escrevi a respeito. O verdadeiro clima de guerra entre índios e proprietários rurais no Mato Grosso do Sul foi parido na Secretaria-Geral da Presidência, e o tal assessor está no epicentro da crise.
Assim, em vez de ser um interlocutor, Carvalho, na prática, se comporta como um insuflador de conflitos. Como esquecer aquela sua conversa com lideranças indígenas da região de Belo Monte, quando afirmou que a presidente da República havia dado uma ordem para que o ministro da Justiça não cumprisse uma reintegração de posse? Sua atuação no Planalto anda cada vez mais nebulosa. Gente ligada à sua pasta se envolveu na organização de um protesto em… Brasília na estreia da Copa das Confederações — aquele dia em que Dilma foi vaiada… três vezes!!!
Se Carvalho estivesse dedicado à resolução de conflitos e se antecipado a eles, em vez de promovê-los, certamente teria percebido uma nuvem negra se adensando no país. O que ainda não tenho claro é se ele realmente não percebeu nada ou, pior para Dilma, percebeu tudo e deixou que as coisas seguissem o seu curso. Até a depredada Esplanada dos Ministérios sabe que o candidato in pectore do chefão petista na eleição do ano que vem é Lula, não Dilma. NÃO SE ESQUEÇAM DE QUE CARVALHO, NOS PRIMEIROS MESES DO ATUAL GOVERNO, LEMBROU QUE LULA PODERIA VOLTAR À CENA.
Nesta segunda, a presidente reúne a cúpula do governo. Seu prestígio, que já havia caído, deve ter despencado. O curioso é que tudo nasceu mesmo da má consciência. Petistas e forças filopetistas resolveram brincar de excitar as massas em São Paulo, achando que é simples, fácil e seguro manipulá-las. Aí está o resultado.
Pois é… O irônico é que se estimou em 100 mil pessoas o número de manifestantes em São Paulo nesta quinta. Não houve incidentes com a Polícia Militar. Ao contrário até. O clima na capital era amistoso. O que se viu mesmo foram bandeiras do PT sendo queimadas. Os militantes do partido, que haviam obedecido as ordens de Rui Falcão e aderido à manifestação, tiveram que enrolar seus panos e ir embora. E a massa gritava uma rima impublicável em “ê”