Ainda criança presenciei de muito perto a indignação dos “caipiras”, denominação dada às pessoas que residiam no interior do Estado de São Paulo, com a preterição em que eram submetidos pela oligarquia política/industrial paulistana.
Isto culminou em uma verdadeira surra eleitoral no candidato ao Senado Carvalho Pinto, patrocinada pelo candidato dos “caipiras”, fato jamais imaginado pelos afortunados encrustados no Palácio dos Bandeirantes.
Na juventude, na condição de universitário, presenciei e participei ativamente do movimento denominado “Diretas Já”, em que a população saiu às ruas para externar sua irresignação com o processo indireto de escolha do Presidente da República e também com a perspectiva de Paulo Maluf, “à época, a ficha suja número 1 do Brasi”l, sagrar-se vitorioso no espúrio sufrágio antidemocrático.
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Já adulto, tive o prazer de testemunhar o movimento dos “Caras Pintadas”, em que a população demonstrando sua revolta com a corrupção instalada no Governo Central, pedia a cassação do mandato do filho da Dinda, que juntamente com seu fiel escudeiro PC Farias, lideraram verdadeira quadrilha que estava sangrando os cofres públicos, contando com a complacência de quem deveria coibir tais fatos.
Nos três movimentos populares a que me referi, ocorridos em épocas distintas, dois combustíveis foram os propulsores de todos eles: a indignação popular e a iniciativa dos jovens em saírem às ruas, posteriormente acompanhados pelos demais segmentos da sociedade obreira.
Apesar dos mais de vinte anos que separam os dias de hoje do último movimento popular relevante, “os caras pintadas”, de lá para cá percebemos claramente que em todo o País, incluindo neste contexto o nosso Estado de Mato Grosso, que parte significativa da elite política, menosprezando e subestimando a tudo e a todos, de forma assustadora vem avançando sobre os cofres e os bens públicos, contando com um silêncio irritante de quem deveria por dever de ofício combater tal estado de coisa e da população em geral.
Confesso que não tinha mais esperança de ver ocorrer qualquer resistência por parte da população a este tipo de desvio de conduta ético/moral de muitos daqueles que deveriam cuidar da coisa pública e de legislarem em favor da sociedade.
Este silêncio da população e principalmente a indiferença dos jovens diante dos descalabros administrativos praticados por alguns, me fazia pensar que as pessoas, dentro deste mundo competitivo, haviam perdido a capacidade de se indignarem e que havíamos criado uma geração de jovens alienados, que se preocupavam somente com as “baladas”, “festas” e “shopping”.
Ledo engano o meu!!!
Com o movimento popular que está ocorrendo em todos os rincões do Brasil, pude perceber que os jovens, diferentemente do que imaginava, estão “antenados” em tudo e a todos, assim como a grande maioria da população não perdeu a sua capacidade de indignação e definitivamente desejam ver longe das coisas públicas as verdadeiras quadrilhas em que se transformaram parcelas da elite política.
As ruas deram o recado. Agora cabe à Polícia e ao Ministério Público fazerem sua parte, com ou sem PEC 37!!!
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*Ricardo Monteiro é advogado militante em Mato Grosso.