Entro em férias, mas não vou desertar 08/07/2013
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Caras e caros,
Este blog, como sabem, não reconhece fim de semana. Aqui se exerce um trabalho análogo à escravidão… amorosa! Todos os dias da semana, incluindo sábados, domingos e feriados. De vez em quando, é preciso descansar um pouco. Estou saindo de férias, mas, como já aconteceu, vocês sabem que não fico muito tempo longe do blog.
Podem passar por aqui que continuarei atento ao Inverno de Banânia, que muitos pretendem Primavera. Saio em busca de alguns dias de Verão. A viagem já estava marcada.
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Vou combinar com os valentes do Movimento Passe Livre para que me avisem com antecedência quando estiverem prestes a ter uma outra boa ideia para levar pânico às hostes… petistas.
Os extremistas de esquerda se esqueceram de combinar a agenda com o povo e acabaram criando mais problemas para os “companheiros” do que para os, como é mesmo?, reacionários.
O blog volta à plena normalidade no dia 1º de agosto. Isso não quer dizer que eu vá ficar sem escrever até lá. De resto, conto com vocês para manter aceso o debate na área de comentários.
A democracia
Dou uma diminuída no ritmo, por alguns dias, depois de termos batido em junho o recorde de visitas para um único mês: quase 5,5 milhões. Já manifestei aqui a minha gratidão em outras oportunidades e volto a fazê-lo.
Foram dias muito ricos esses, também para nós, para a nossa convivência. Mais de uma vez fui cobrado a explicar — cobrança justa — a minha falta de entusiasmo com alguns sinais que têm chegado das ruas.
Não me deixei cair de encantos pelas manifestações como faz a extrema esquerda brasileira, que já anuncia aos quatro ventos a crise irrecuperável da representatividade e trata a própria democracia como inimiga.
Fiquem atentos: alguns supostos intelectuais brasileiros, que dão plantão em emissoras de TV, sites, jornais, revistas, conferências etc., resolveram inverter um fundamento que orientou a esquerda brasileira nos últimos quase 40 anos.
Considerava-se, então, que a democracia era um valor universal e um instrumento, para eles ao menos, para chegar ao socialismo.
Esses novos radicais — e o movimento vem de fora; não nasceu aqui — entendem o exato contrário: é preciso golpear o regime democrático para, então, se der e quando der, golpear o capitalismo.
Esse é agora o novo inimigo. Em muitos aspectos, retomam a cartilha leninista, ainda que não vislumbrem, necessariamente, uma insurreição armada — mas também não a descartam.
E, como é sabido, também não me deixei capturar pelas manifestações de rua a exemplo de muitos liberais, ou quase isso, alguns deles meus amigos, que enxergam na voz das ruas um “não” ao aparelhamento das instituições pelo PT, uma recusa ao desassombro com que essa gente se apoderou do estado; um rechaço veemente à privatização da coisa pública em benefício de um partido e de seus asseclas.
Acho, sim, que isso tudo está presente nas ruas. Mas, como já lhes disse aqui algumas vezes, o método, para mim, faz diferença.
Em política, entendo, os meios qualificam os fins, e a forma se torna conteúdo.
Sou, sim, um conservador. Não um conservador de governos, não um conservador do statu quo, não um conservador de iniquidades.
Sou um conservador de instituições. E muito do que vejo não me agrada.
Estarei um pouco menos presente nas próximas três semanas, mas jamais ausente. E os convido, neste texto, a atentar para algumas chaves do que está em curso.
A primeira é esta mesma, de que trato nos parágrafos anteriores: a democracia.
Fiquem em estado de alerta. Lideranças políticas e intelectuais que sustentam com veemência “a crise de representatividade” quase sempre estão a advogar uma outra legitimidade que não a eleitoral.
Avança com força o debate de que a verdadeira representação já não se estabelece mais por meio de partidos e do Parlamento.
É evidente que não serei eu aqui a sustentar a excelência e a grandeza moral de todo o Poder Legislativo, embora tenhamos tido avanços notáveis, sim, nos últimos 25 anos.
Que os Poderes precisem ser reformados, isso me parece evidente. Que a população tenha o direito de cobrar mudanças, eis uma coisa igualmente óbvio. Mas vamos com calma!
O Congresso
Cuidado com os oportunistas. Há muita gente que não presta no Congresso brasileiro. Mas é bom não confundir personalidades e personagens com a instituição.
Fazê-lo corresponde a jogar o jogo dos inimigos da democracia.
Há uma pressão imensa, hoje em dia, para que grupos organizados, comunidades de opinião e lobbies os mais variados, disfarçados de causas humanitárias, substituam o Parlamento e imponham a sua vontade em razão de sua, sei lá, como chamar, suposta superioridade moral.
A musa dessa forma supostamente alternativa de fazer política é Marina Silva, que passa a impressão de que, se um dia chegar ao poder, vai governar com o auxílio dos entes da natureza.
A frase-símbolo desse entendimento precário do que seja democracia é o tal “Não me representa”.
Os parlamentares A ou B podem não representar esse ou aquele, mas certamente representam outros.
O ódio meio cego ao Congresso faz com que aqui e ali se saúde, por exemplo, o fato de a CCJ do Senado ter aprovado o fim do voto secreto, sem exceção.
Ora, isso poria de joelhos o Parlamento diante do Executivo.
A menos que um presidente da República esteja para cair, nunca mais se derrubará um veto presidencial se essa tolice for aprovada.
É claro que políticos às pencas abusaram e abusam no exercício de privilégios, nem sempre morais e legais.
Mas lhes peço prudência quando participarem do debate por aí.
Há quem pretenda que o exercício da representação deva ser uma espécie de expiação, de prova de sacrifícios.
Atenção, minhas caras, meus caros: nesse caso, a política passaria a ser exercida apenas por representantes de corporações de ofício, de lobbies e de grupos organizados.
O dia 11
Está marcada uma greve geral para o próximo dia 11, quinta-feira. Todas as centrais sindicais aderiram. Até a oficialista UNE resolveu se juntar à turma.
Atenção! A proposta conta com o apoio do PT e da CUT — o Diretório Nacional do partido emitiu uma nota conclamando a companheirada a ir à rua.
Um dado curioso só na aparência: também o Palácio do Planalto não está exatamente hostil à ideia.
Como explicar? Os petistas e o governo apostam numa manifestação conduzida por sindicatos na esperança de que estes possam tomar as rédeas do movimento.
Certamente teremos a chance de ver cartolinas e faixas em favor do plebiscito.
Na quinta-feira, o homem comum eventualmente descontente com os governos dividirá a cena com os descontentes profissionais, que pretendem capturar as ruas.
Concluo
Fiquem atentos, pois, aos inimigos da democracia dentro e fora do governo.
Tempos como os que vivemos são propícios à emergência de feiticeiros institucionais.
Vou descansar um pouco, mas não estarei ausente. Podem passar aqui de vez em quando que é grande a chance de a gente se encontrar.
Mais uma vez, obrigado pela consideração, pelo rigor e pelo apreço de vocês! Lutaremos em defesa do regime democrático até a última palavra.