Campo, câmbio e tecnologia 07/08/2013
- O Estado de S.Paulo
Pelo menos um setor, o agronegócio, pode exibir bons resultados num ano desastroso para o comércio exterior brasileiro.
Chegaram a US$ 47,3 bilhões entre janeiro e julho, cerca de 12% mais que um ano antes, as vendas externas de soja e derivados, carnes in natura, café, milho, fumo, couro, suco de laranja e algodão.
Estes são apenas os produtos principais. Um levantamento mais detalhado apontaria um faturamento maior, mas basta essa verificação incompleta para mostrar o contraste entre as exportações de base agropecuária e as vendas de manufaturados, no valor de US$ 50,69 bilhões, apenas 0,4% maior que as de igual período de 2012.
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Sem as commodities, e, de modo especial, sem as do agronegócio, o saldo comercial acumulado em sete meses seria bem pior que o déficit de US$ 4,99 bilhões apontado nas contas oficiais.
A maior parte da indústria pouco se beneficiou do câmbio depreciado. Suas exportações patinaram, as importações continuaram em crescimento e o impulso à rentabilidade do setor deve ter sido muito limitado.
O efeito deve ter sido pior para os segmentos mais dependentes da importação de insumos e componentes, exceto no caso das fábricas de tecnologia mais avançada e mais integradas nas cadeias globais - normalmente mais competitivas.
Para o agronegócio, ainda bem mais eficiente que a maior parte do setor industrial, a depreciação do real proporcionou ganhos adicionais.
Pelo câmbio médio do período janeiro-julho, os US$ 47,3 bilhões faturados com as exportações dos principais produtos agropecuários corresponderam a cerca de R$ 98 bilhões.
Houve um ganho de cerca de R$ 20 bilhões sobre o resultado de um ano antes. Pelo câmbio médio de janeiro-julho de 2012 - R$ 1,89 por dólar - o valor em moeda nacional teria sido R$ 89,5 bilhões.
A variação cambial garantiu, portanto, um ganho extra de cerca de R$ 8,5 bilhões, segundo cálculo apresentado pelo jornal Valor.
Dirigentes da indústria manufatureira gastaram muito tempo, nos últimos anos, cobrando medidas do governo contra a valorização do real.
O ministro da Fazenda e a presidente da República protestaram em foros internacionais contra uma suposta guerra cambial movida pelas economias mais desenvolvidas.
Com ou sem guerra, houve um inequívoco efeito cambial provocado pela expansão monetária nos Estados Unidos, na Europa e, mais tarde, no Japão.
Mas o governo brasileiro e muitos empresários deram muita atenção ao câmbio, por longo tempo, do que a outros fatores determinantes da produtividade e do poder de competição.
A agropecuária também tem sido prejudicada por alguns desses fatores, como, por exemplo, a notória deficiência do setor de transportes, mas foi capaz, nos últimos dez anos, de se manter competitiva e de batalhar por novos espaços no mercado internacional.
Boa parte de sua eficiência é atribuível a mudanças tecnológicas acumuladas em mais de três décadas e a novas práticas de manejo do solo e das criações.
Graças a isso, a produção tem aumentado muito mais rapidamente que a ocupação de terras. Isso produz ao mesmo tempo ganhos econômicos e ambientais, nem sempre reconhecidos por uma parcela do governo e de seus aliados.
A busca da produtividade continua. Grande parte do investimento privado deste ano, apontado pelo governo como um dado altamente positivo, foi realizada pela agropecuária, mas este detalhe é raramente ressaltado.
Enquanto a produção de veículos leves entre janeiro e julho foi 5,2% maior que a de igual período de 2012, a de caminhões pesados ficou 43,9% acima da registrada um ano antes, segundo os últimos dados da associação das montadoras, divulgados ontem.
A boa safra de grãos e oleaginosas é uma das principais explicações desse resultado - provavelmente a principal.
As vendas de máquinas agrícolas automotrizes de fabricação nacional aumentaram 28,6% na mesma comparação.
Esse vigor é resultado de ações de longo alcance, muito diferentes das políticas imediatistas e eleitoreiras dominantes em Brasília nos últimos anos.