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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Câmbio ruim, na alta e na baixa
20/08/2013 - O Estado de S.Paulo

Em mais um dia de muita agitação no mercado de câmbio, o dólar foi vendido a R$ 2,414 no fechamento, com alta acumulada de 18,1% desde o começo do ano.

Repete-se, com sinal trocado, a história da oscilação excessiva do real diante da moeda americana.

Durante anos, o real valorizou-se mais que a maior parte das outras moedas, enquanto o mercado internacional era inundado pelas emissões do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).


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O cenário começou a mudar quando o Fed anunciou, há poucos meses, a disposição de abrandar essa política, talvez já em 2013, se a recuperação da economia americana continuasse.

Nesse caso, seria reduzida gradualmente a compra mensal de até US$ 85 bilhões em títulos públicos e papéis lastreados em hipotecas.

Novas indicações podem surgir amanhã, quando se divulgará a ata da última reunião de política monetária da instituição.

Com a perspectiva de menos emissões nos Estados Unidos, o dólar voltou a subir e a moeda brasileira, mais uma vez, foi uma das mais afetadas pela movimentação cambial. Como sempre, o governo brasileiro tende a explicar as desventuras econômicas nacionais como resultantes de problemas no exterior. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, usou na semana passada a estranha expressão "turbulência do Fed" para indicar um dos fatores do recente aumento da incerteza.

A alta do dólar aumenta a insegurança, hoje, em primeiro lugar, pela pressão inflacionária resultante da alta do dólar. Essa valorização atinge direta e indiretamente boa parte dos preços. Além disso, a corrida em busca da moeda americana e de ativos denominados em dólar tende a encarecer os financiamentos no mercado internacional. Antes, quando o mercado internacional era afetado pela grande emissão de moeda americana - um tsunami monetário, segundo a presidente Dilma Rousseff -, o grande problema denunciado pelo governo era a alteração das condições de competição. Dólar depreciado tendia a baratear as exportações americanas e a encarecer as de outros países, incluído o Brasil.

Mas por que a economia brasileira, antes como agora, esteve entre as mais afetadas pela política monetária americana? O País poderia ser beneficiado se o governo, em vez de continuar apontando potências estrangeiras como responsáveis pelos problemas brasileiros, fizesse uma revisão da própria política.

A hipersensibilidade brasileira às mudanças no mercado internacional de câmbio é explicável principalmente pelas condições internas da economia - e, portanto, pelas características da política decidida em Brasília. Durante anos, o Brasil atraiu grandes volumes de capital tanto por seus aspectos positivos quanto por seus defeitos. A lista dos primeiros incluía a rentabilidade de alguns setores, a evolução favorável da bolsa de valores e a resistência aos impactos da crise externa. Na relação dos segundos, o destaque evidente era a taxa de juros, uma das mais altas do mundo em termos nominais e reais.

Os juros foram reduzidos por algum tempo, em parte por pressão do Executivo, mas o desafio principal foi esquecido pelos formuladores da política: a inflação, bem mais alta que da maior parte dos países, tanto emergentes quanto desenvolvidos. Nada se fez, igualmente, para eliminar uma das causas da inflação e dos juros altos - o desajuste das contas públicas. Em vez de cuidar do problema, o governo tentou escondê-lo com maquiagens escandalosas. Da mesma forma, pouco foi feito, nos últimos anos, para elevar a eficiência da economia nacional e seu poder de competição.

Agora, como antes, o País depende excessivamente do câmbio para competir no mercado global por causa das muitas fraquezas de sua economia - consequências de uma política populista e voltada para o curto prazo.

Agora, como antes, a inflação deixa o Brasil em posição desvantajosa para enfrentar os desafios internacionais. E agora, bem mais do que antes, a baixa credibilidade da política econômica aumenta a vulnerabilidade aos abalos externos. A ação do Fed é só um dos muitos fatores de risco. Os mais importantes são made in Brazil.


  

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