Os desafios de São Petersburgo 05/09/2013
- O Estado de S.Paulo
Com a melhora dos ricos e a piora dos emergentes, o pano de fundo da reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), em São Petersburgo, na Rússia, é bem diferente daquele observado nos sete encontros anteriores de chefes de governo das maiores potências econômicas.
A economia americana está em firme recuperação, a zona do euro está em lenta convalescença e o Japão parece reencontrar o caminho do crescimento, depois de duas décadas de estagnação.
Ao mesmo tempo, a China perde impulso e assusta o mundo, embora deva continuar crescendo, em 2013 e 2014, em ritmo superior a 7% ao ano. Outros grandes emergentes, como Brasil, Índia, México e África do Sul também perdem impulso.
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Com essa mudança, alteram-se os problemas e troca-se o sinal de algumas preocupações. O mercado cambial continua sujeito a incertezas e turbulências, agora com valorização do dólar e forte depreciação de outras moedas, incluído o real.
Como de costume, a presidente Dilma Rousseff e seus assessores chegam à reunião com reclamações contra as políticas do mundo rico, especialmente dos Estados Unidos.
Desta vez, a grande preocupação é com a insegurança causada pela perspectiva de reversão da política monetária americana, até agora fortemente expansionista.
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deve abandonar nos próximos meses, talvez até o fim do ano, a emissão de até US$ 85 bilhões por mês, adotada como estímulo à expansão dos negócios e à criação de emprego.
Durante anos, a inundação de moeda americana depreciou o dólar e encareceu os produtos de outros países, dando ao governo brasileiro um pretexto para acusar os americanos de promover uma guerra fiscal. O problema, agora, é o oposto.
O simples anúncio da mudança política, ainda sem data para começar, mexeu com os mercados, jogou o dólar para cima e provocou forte depreciação de outras moedas. Com apoio do Fundo Monetário Internacional, os emergentes cobram do Fed uma reversão gradual e muito cuidadosa de sua estratégia.
O perigo imediato é de mais pressões inflacionárias, especialmente preocupantes no Brasil, um país com inflação já bem acima dos níveis observados em outras economias.
Embora leniente com a inflação, o governo tem de evitar o risco de um novo estouro do limite oficial de tolerância, de 6,5%. Por isso o Banco Central tem atuado, até agora com êxito, para conter a instabilidade do câmbio. O tipo de intervenção escolhida tem evitado a queima de reservas.
De qualquer forma, a presidente Dilma Rousseff poderá exibir em São Petersburgo, se quiser, a ampla munição disponível no Brasil - reservas superiores a US$ 370 bilhões. Não poderá exibir, no entanto, um crescimento econômico muito maior que o dos primeiros dois anos de seu governo.
A reunião poderá ser temperada com discussões sobre a crise na Síria e a ameaça americana de bombardeio. Mas boa parte da pauta será mera continuação de assuntos debatidos nos últimos anos.
Organismos especializados apresentarão relatórios sobre o avanço da reforma do sistema financeiro e da implantação das novas normas de segurança bancária, conhecidas pelo nome de Basileia 3. Basileia, na Suíça, é a sede do Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais.
A adoção dessas normas tem progredido bem mais rapidamente que a reforma geral do sistema.
Os líderes também deverão, mais uma vez, afirmar o compromisso de evitar o protecionismo. Também deverão prometer esforços para reativar a Rodada Doha, o mais ambicioso programa de liberalização comercial tentado até hoje.
O novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, o brasileiro Roberto Azevêdo, fará sua estreia numa reunião do G-20.
Seu grande objetivo é garantir o sucesso da conferência ministerial programada para novembro, em Bali, como mais um esforço para salvar a rodada e reafirmar a relevância da própria organização.
Se for convincente, a cúpula de São Petersburgo terá servido pelo menos para um grande objetivo.