O Brasil acaba de colher nova safra de grãos e mais uma vez o campo mostrou que fez seu dever de casa. A produção foi recorde no período 2012/2013, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento: 186,15 milhões de toneladas. Um aumento de 12,1% em relação a 2011/2012 (166,20 milhões de toneladas). Desde que teve condição para trabalhar com planejamento - quando o "monstro" da inflação ficou sob controle e a macroeconomia adquiriu certa estabilidade -, o agronegócio arregaçou as mangas e aumentou ano a ano a produtividade das lavouras brasileiras.
Embora com safra de grãos recorde, na hora de estocar ou escoar a produção o produtor perde a competitividade que obteve na lavoura - os avanços pontuais alcançados pelo Brasil não acompanharam o processo de transformação do agronegócio. O País perdeu a chance de melhorar, e muito, sua infraestrutura e sua logística quando sua situação macroeconômica e a externa viviam em céu de brigadeiro. Enquanto a deterioração econômica rondava, nada foi feito, e quando finalmente se aceitou que ela aterrissou nestas paragens, promessas e mais promessas de "solução" pipocaram.
Mas infraestrutura e logística não surgem de um simples grão de milho, como na alquimia que o transforma em pipoca. E foi assim que o Brasil perdeu oito posições, de 2012 a 2013, no Ranking Global de Competitividade. Caiu de 48.º para 56.º dos 148 países analisados no relatório, editado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) - no Brasil o estudo é feito em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC) e o Movimento Brasil Competitivo. Com o resultado, voltou-se à condição de 2009, atrás de México, África do Sul e Costa Rica.
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Segundo o ranking do WEF, dos cinco países do grupo dos Brics, a China está em 29.º lugar e continua liderando na competitividade. Em seguida vem a África do Sul, que caiu uma posição e está em 53.º, enquanto o Brasil ocupa um constrangedor 56.º lugar. A Índia, em 60.º, também caiu uma posição. Já a Rússia foi a única que subiu no ranking e está em 64.º lugar.
O governo traiu quem investiu no agronegócio crendo nas promessas (na maioria, eleitoreiras) de recursos para melhoria em infraestrutura e logística do País. E o fundo do poço parece não ter fim. Atrasadíssimos. Essa é a palavra para a situação de estradas, ferrovias, portos, aeroportos e armazéns.
A eterna expectativa do povo brasileiro, de viver num país desenvolvido, continua eterna. As atitudes dos atuais comandantes do Estado nacional brasileiro sugerem um único comprometimento: o de se perenizarem no poder. Para debaixo do tapete, o "pibinho", a inflação e a falta de reformas. E a carestia voltou à mesa da família brasileira.
Enquanto isso, o custo do escoamento da safra da fazenda até o porto dificulta a comercialização dos produtos, como a soja, e vem dando prejuízo, comprometendo 13,1% da receita das empresas brasileiras, de acordo com o estudo Custos Logísticos no Brasil, da FDC, do final de 2012. O levantamento foi feito com 126 empresas de diversos setores que representam 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
O estudo ainda apontou que o custo logístico do Brasil é de 12% do PIB. Nos EUA, essa relação é de 8% do PIB. Se a logística brasileira tivesse o mesmo desempenho da americana, o Brasil economizaria R$ 83,2 bilhões ao ano. O investimento em infraestrutura logística não passou de 2% do PIB ao longo dos últimos anos. O pico foi nos anos 70, quando foram feitos grandes investimentos em rodovias. E é exatamente o transporte de longa distância o que mais contribui para o custo logístico brasileiro. Ele responde, segundo as empresas ouvidas no estudo, por 38% do gasto, seguido de armazenagem (18%) e distribuição urbana (16%).
Diante de todas as evidências de colapso na infraestrutura e logística, cabe a pergunta: se havia recursos e nada foi feito, será por falta de vontade política?
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*Jornalista, é doutora em socioeconomia do desenvolvimento pela Ehess de Paris. E-mail: kassia.caldeira.sp@gmail.com