Cai a máscara da isenção 25/09/2013
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Pois é, pois é… Como se pode constatar nos arquivos -- sim, sempre remeto ao que escrevi porque é preciso ter memória --, jamais asseverei a inocência deste ou daquele no caso Siemens. Que se apure. O que sempre fiz aqui foi outra coisa:
a: indaguei como uma apuração sigilosa vazava dados selecionados para jornalistas que supostamente só comprometeriam o governo de São Paulo;
b: indaguei por que o sigilo só valia para o governo do Estado, mas não para os vazadores;
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c: indaguei se o Cade havia, afinal de contas, feito uma sindicância para apurar os vazamentos (claro que não!);
d: indaguei se a Siemens, mantendo contratos bilionários com o governo federal, especialmente na área de energia, não tinha nada a dizer sobre as negociações com “os companheiros”;
e: indaguei, sim, se o senhor Vinícius Marques de Carvalho, notório petista (não sei se tem carteirinha ou não) estava se comportando com a devida isenção na presidência do Cade;
f: indaguei se o Cade tinha competência para condenar, como se fazia por intermédio de vazamentos, antes mesmo de apurar.
As respostas -- ou “a resposta” a todas as perguntas -- vêm numa reportagem de Andreza Matais e Fábio Fabrini no Estadão de hoje.
Não! O senhor Vinícius Marques Carvalho não tem a necessária isenção para cuidar do assunto. ELE FOI, VEJAM QUE COINCIDÊNCIA, CHEFE DE GABINETE DO ENTÃO DEPUTADO ESTADUAL SIMÃO PEDRO (PT) ENTRE MARÇO DE 2003 E JANEIRO DE 2004.
Simão Pedro? Pois é. Ele é agora secretário de Serviços da gestão Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo.
Simão Pedro protocolou no Ministério Público, em 2011, um pedido de investigação sobre contratos da Siemens com o Metrô e a CPTM.
Em 2012, voltou à carga. Nesse ano, seu ex-chefe de gabinete assume o Cade e, quanta coincidência!, faz-se o tal “acordo de leniência”, com especial foco, tudo indica, em São Paulo.
Parece que os valentes não têm nenhuma curiosidade sobre o que se passa na relação com o governo federal.
Omissões
Até aqui, o leitor pode ter pensado: “Mas e daí, Reinaldo, que o chefão do Cade tenha sido assessor do deputado petista que vivia fazendo denúncias? Essa condição era pública, não era?”.
EIS A RESPOSTA: NÃO!!!
O senhor Carvalho omitiu de forma diligente de seu currículo a assessoria que prestou ao petista.
Um currículo de Carvalho, então apenas conselheiro do órgão, enviado ao Senado em 2010 pela então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, lista suas atividades profissionais de fevereiro de 2002 a janeiro de 2003 e de fevereiro de 2005 a fevereiro de 2006.
Bidu! Omitiu justamente o período em que este patriota serviu a Simão Pedro.
Em 2012, foi a vez de a ministra Gleisi Hoffmann fazer o mesmo -- aí ele já era candidato a presidir o órgão. Mais uma vez, os serviços prestados ao petista não estavam lá.
Como Carvalho explica a omissão?
Ora, ele diz que “provavelmente foi um lapso”.
Eu gosto de palavras. “Provavelmente lapso” quer dizer que ele não está muito certo disso. Se colar, colou.
Melhor do que essa frase, só uma de José Dirceu, que entrará para a história: “Estou cada vez mais convencido da minha inocência”…
Assim, de primeira, ele mesmo admitia que era duro de acreditar, hehe.
Simão Pedro, hoje secretario de Haddad, tem senso de humor -- ainda que a coisa toda não tenha graça.
Diz ao Estadão que sua relação com o chefão do Cade é de “amizade” e não interferiu em nada no andamento do processo. E poetiza: “É uma coincidência danada do destino!”.
Nem me digam!
Mulher de César
Há já um clichê sobre o comportamento e a essência de políticos e pessoas públicas: “À mulher de César, não basta ser honesta; é preciso também parecer honesta”.
O petismo, em regra, já não se incomoda mais nem com o ser nem com o parecer.
Há um “que se dane!” no ar.
Afinal, como lembrou o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), aquele que diz querer sentar na cadeira de Joaquim Barbosa, o eleitor não dá bola para essas coisas…
Pesassem as acusações contra um governo petista e se descobrissem os vínculos do presidente do Cade com um chefão tucano diretamente envolvido com a denuncia, é claro que “aquela gente” aproveitaria para declarar a inocência da petezada toda…
Eles usam até votos de Lewandowski para negar a existência do mensalão…
Não! Eu não vou negar que tenha havido irregularidades.
Não sei. Que se façam as investigações para que se distingam fatos de denúncias ocas.
Assim, o vínculo do presidente do Cade com o petismo não corrige ou anula, por si, eventuais malfeitos.
As questões relevantes são outras.
O que as pessoas razoáveis sempre estranharam nesse caso eram os vazamentos seletivos e o fato de o Cade não ter tido a ideia de apurar o comportamento da Siemens na esfera federal.
A menos, claro!, que a gente considere que petistas são seres impermeáveis à corrupção.
Para mim, está explicado por que o Cade agiu, sim, como polícia política nesse período e por que seus métodos ficaram à altura das melhores tradições bolivarianas da Venezuela, do Equador e da Bolívia.
Nesses países, os protoditadores recorrem a acusações de corrupção para eliminar adversários políticos.
Não fosse assim, o acordo de leniência celebrado pelo, sabe-se agora, ex-estafeta do PT não se limitaria a São Paulo e ao Distrito Federal (na gestão não petista, é óbvio!).
Também abrangeria os contratos da Siemens com o governo federal petista.
Cai a máscara de isenção do Cade e resta, para não variar, a carranca do petismo.