A indústria emperrada 03/10/2013
- O Estado de S.Paulo
Más notícias da indústria confirmam as previsões de uma nova fase ruim para a economia nacional, depois de uma forte reação no segundo trimestre, quando a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi puxada principalmente pela agropecuária.
A produção industrial ficou estável em agosto - crescimento zero - depois de uma queda de 2,4% na passagem de junho para julho, segundo informou ontem o IBGE.
Principal fonte de dinamismo e de bons empregos por longo tempo, o setor industrial mantém-se estagnado há quase três anos, pressionado por custos crescentes e exposto a uma concorrência internacional cada vez mais dura.
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Medidas protecionistas impostas pelo governo foram insuficientes, mesmo com a depreciação cambial, para compensar a perda de competitividade dos produtores brasileiros, como comprovou, mais uma vez, a balança comercial do mês passado.
Em setembro a receita de exportações de manufaturados foi 11% menor que a de um ano antes, pela média dos dias úteis. A de semimanufaturados, 8,2% inferior à de setembro de 2012. Enquanto isso, produtos importados continuaram entrando no mercado nacional sem obstáculos impostos pelos concorrentes locais.
O resultado de agosto foi determinado basicamente pela queda de 0,6% na produção de bens de consumo, o componente de maior peso no conjunto, quando se considera a forma de uso de cada categoria de produtos. A fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, aumentou 2,6%, mas esse resultado ficou longe de compensar a queda de 4,7% ocorrida em julho. Também o aumento de 0,6% no setor de bens intermediários foi insuficiente para neutralizar a perda de 1,8% acumulada nos três meses anteriores.
A melhor notícia, de toda forma, parece estar no setor de bens de capital. A produção em agosto foi 11,8% maior que a de um ano antes e o aumento acumulado em 12 meses chegou a 4,6%, enquanto o crescimento geral da indústria ficou em 0,7%. Só uma expansão muito ampla nos quatro meses seguintes poderia proporcionar para toda a indústria um resultado acima de medíocre em 2013.
Ministros da área econômica têm insistido, no entanto, em chamar a atenção para a produção de bens de capital, isto é, de bens destinados a ampliar e a fortalecer a capacidade produtiva do País. A reativação da economia, tem repetido o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem sendo gerada pela expansão do investimento em máquinas, equipamentos, instalações e infraestrutura. Os números do IBGE parecem dar-lhe alguma razão, pelo menos à primeira vista. Mas o quadro fica menos entusiasmante quando se decompõem os números e se examinam os detalhes.
No bimestre julho-agosto deste ano, a produção de bens de capital foi 12,4% superior à de igual período de 2012, mas essa variação mal chega a compensar a queda observada nos dois meses correspondentes de 2012. Em todo o ano passado, é importante lembrar, o resultado foi 11,8% inferior ao de 2011. Poucos segmentos da indústria de bens de produção têm exibido de fato um desempenho suficiente para caracterizar uma expansão de longo prazo.
Uma dessas exceções é o setor de bens de capital para a agricultura, com produção, em julho-agosto, 31,4% superior à do período correspondente de 2012. No acumulado do ano, também a fabricação de caminhões avançou com firmeza, puxada em grande parte pela demanda do setor agrícola.
É cedo para falar de ampla recuperação do investimento empresarial. Os dirigentes de empresas precisarão de novos sinais positivos para se envolver em projetos mais amplos de renovação e ampliação da capacidade produtiva de suas empresas. Os sinais animadores dependerão principalmente do governo. Se as autoridades conseguirem desemperrar os investimentos em infraestrutura, o setor privado terá uma boa indicação para assumir novos riscos. Melhor, ainda, se o governo exibir disposição de gastar com mais austeridade e mais eficiência, mesmo em fase de eleição.