Rio se tinge com o verde do Exército para leiloar campo do pré-sal 21/10/2013
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Parte do Rio está nesta segunda sob o controle de forças federais, especialmente o Exército.
Sim, ainda que numa circunstância um tantinho diferente, como já notei aqui, a presidente Dilma Rousseff, do PT, repete o então presidente da República de 1995 -- FHC, do PSDB -- e chama os soldados.
A diferença é que a Federação Única dos Petroleiros, ligada à CUT, uma das promotoras da greve do setor e adversária do leilão do campo de Libra, é aliada desse governo e se opunha àquele.
PUBLICIDADE
PSOL, PSTU e outros ultraesquerdistas se reúnem numa outra federação e também tentam impedir o evento.
Ainda que eu registre aqui, com certa ironia, que Dilma recorre a um procedimento como antes já se fez nestepaiz, não critico a coisa em si, não.
Tem de chamar as Forças Armadas mesmo.
Estou doido para saber se vai haver black blocs, desta vez, tentando furar o bloqueio.
Mas isso não é a coisa mais interessante que está em curso, não.
O leilão do Campo de Libra, que se pretende um dos maiores do mundo, se dá num climão meio borocoxô, sem muito ânimo.
Os primitivos de extrema esquerda estão vociferando por aí que gananciosos capitalistas internacionais querem o nosso petróleo, querem roubar tudo de nós.
Infelizmente, não!
É o contrário. Há o risco de um só consórcio se apresentar, justamente o formado pela Petrobras e pelas chinesas CNPC e CNOOC.
Um outro, liderado pela Shell, em parceria com a indiana ONGC e a francesa Total, não estava conseguindo se viabilizar.
Eu já falei sobre a Pipoca, uma das cadelinhas aqui de casa, certo?
De vez em quando, ela “rouba” um pregador, um pedaço de casca de tangerina, um papel de bala.
Leva para a casinha dela, deita em cima e vira uma fera de assustadores três quilos e meio. Rosna para quem passar perto.
Mensagem: “Você está querendo este meu pregador, né? Este meu papel de bala? Não dou, é meu! Venha pegá-lo se for capaz”.
Ela não é existencialista, como um beagle…
Ninguém quer o papel de bala. Mas rosnar é de sua natureza.
O Brasil é um pouquinho melancólico.
Há uma informação importante numa reportagem da Folha desta segunda, de Valdo Cruz e Denise Luna. Transcrevo um trecho:
"O leilão de hoje do campo de pré-sal de Libra, na bacia de Santos, pode ser o primeiro e último em que a Petrobras participa como operadora única e dona obrigatória de pelo menos 30% do consórcio vencedor. Segundo a Folha apurou, a própria estatal já manifestou o desejo de rediscutir o modelo para torná-lo, pelo menos, opcional. Ou seja, de acordo com a conjuntura da empresa, ela poderia abrir mão dos direitos atuais. O problema é que, para técnicos da estatal, o que pode ser considerado um “privilégio” num dado momento torna-se um “peso” em situações como a atual, em que a empresa enfrenta dificuldades de caixa para bancar seu plano de investimento de US$ 236,5 bilhões. O próximo leilão do pré-sal está previsto para ocorrer só em dois ou três anos, segundo a diretora-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Magda Chambriard."
Retomo
A Petrobras, nas mãos dos petistas, está comendo o pão que a mistificação amassou.
Encerrou 2010 devendo R$ 118 bilhões; em junho deste ano, já devia R$ 249 bilhões -- parte desse rombo decorre de a empresa importar gasolina a um preço superior ao de venda no mercado interno.
Como a economia degringolou, é preciso segurar o preço dos combustíveis para que a inflação não dispare.
No dia 21 de abril de 2006, durante a inauguração da Plataforma P 50, em Campos, Lula repetiu o gesto de Getúlio Vargas, em 1952, e sujou as mãos de petróleo.
O populista marcava o início da extração no Brasil; o petista comemorava a suposta autossuficiência do Brasil.
Pois é… Ainda não chegou.
Foi o modelo de concessão, que então vigia, que permitiu ao país avançar.
Os petistas inventaram que só o de partilha, tendo obrigatoriamente a Petrobras como operadora, é que garantiria a riqueza em nossas mãos.
Patacoada.
Por determinação constitucional, tudo que há no subsolo pertence ao estado brasileiro.
Ocorre que esse modelo, com esse grau de ingerência estatal, está afastando os investidores e impondo à Petrobras um investimento incompatível com a sua situação.
Mas como eles deitaram e rolaram em cima disso, não?
No vídeo (confira na coluna "Curto&Grosso) Dilma se refere ao petróleo e à Petrobras e reduz a história da empresa, até ali, a “carne de pescoço”.
Dilma dizia que o sistema de concessão, que os tucanos defendiam, era “entreguismo”. Chamava o pré-sal de “bilhete premiado”.
Pensava o que agora dizem os petroleiros, contra os quais chamou o Exército.
Parecia que mundo estava saindo aos tapas para vir roubar o petróleo do pré-sal, como se ele estivesse logo ali…
Ninguém está se estapeando por isso, como se vê, e a Petrobras, nesse particular, abriu o bico.