Conteúdo apenas retórico 29/10/2013
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Campos e Marina: a novidade da dupla, por enquanto, tem conteúdo apenas retórico, mas nem a retórica propriamente é nova.
Eduardo Campos e Marina Silva promoveram ontem um encontro entre lideranças de seus respectivos partidos, o PSB e a Rede.
A dupla se diz favorável ao agronegócio sustentável. Claro! Como todo mundo.
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A questão é saber, por exemplo, o que fariam, se a aliança chegasse ao poder, com o Código Florestal.
Marina insistiria na sua versão? Haveria uma grande diminuição da área plantada? O que se daria aos pobres em vez de grãos? Luz? E à balança comercial? Neologismos abstratos?
Não foi a única inconsistência do dia. Leiam estes trechos de reportagem do Estado Online. Volto em seguida.
*
Crítico do sistema de coalizão do governo federal, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), saiu em defesa da composição de seu governo durante o primeiro encontro entre filiados a seu partido e integrantes da Rede Sustentabilidade em São Paulo, na tarde desta segunda-feira, 28.
“Nós não podemos achar que uma pessoa, por ter filiação partidária, não pode ocupar uma função pública. Aí é outro tipo de preconceito”, disse Campos, ao ser indagado sobre a participação de 14 partidos na sua base em Pernambuco e participação do PSB no governo federal do PT.
“Nós não podemos pensar que só por ter uma filiação partidária ela pode participar, mas também não podemos vetar o exercício democrático de uma pessoa que tem filiação partidária, de poder contribuir com uma gestão”, completou.
Campos lembrou que disputou o governo com Sergio Xavier, que defendia a candidatura de Marina em 2010 e que, depois das eleições, o convidou para ser secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.
“Se eu não tivesse um governo que tivesse mudado as práticas políticas, que não tivesse inovado na vida do cidadão pernambucano, eu não teria 83% dos votos numa terra com tradição democrática”, afirmou.
(…)
A ex-senadora Marina Silva também saiu em defesa de Campos. Disse que se Campos fizesse um governo fisiológico, não seria tão bem aprovado pela população.
“Quando falo que vamos fazer aliança programática, não significa governar sozinha. Nenhum partido tem condições de governar sozinho e nem é democrático”, argumentou Marina.
Segundo ela, a posição que critica é de quando partidos fazem alianças “fora de um programa” comum.
“Não significa governar sozinha, mas não poderá ser apenas distribuição do cargo pelo cargo”, disse Marina, que completou: “Se ganharmos queremos governar com os melhores do PT, os melhores do PMDB, os melhores do PSDB, porque essas pessoas existem em todos os partidos”.
(…)
Voltei
Deixem-me ver se entendi direito. Quando um governo tem, então, 83% de aprovação, isso é indício de que ele não recorre à fisiologia?
Ora, ora… Teria sido esse o caso de Lula?
Quer dizer que não houve fisiologia em nenhum dos dois mandatos -- no primeiro, deu-se até o maior esquema criminoso da história da República.
O petista encerrou o mandato com alta popularidade e se reelegeu.
Em que Dilma é diferente do seu antecessor?
Dados os termos do debate, a resposta, então, é uma só: teria a presidente passado a fazer um governo fisiológico só porque sua popularidade despencou?
A fisiologia ou não se mede, agora, por esse critério?
E a fala de Marina?
Lula concluiu o segundo mandato com uma popularidade acima de 80%. Seria esse um sinal de que ele mudou a prática política?
A dupla insiste, no entanto, que, com eles no poder, tudo seria diferente.
Vejam a fala da líder da Rede.
Diz que não quer governar sozinha; tem de ser apoio programático. Certo!
Mas os outros aderem ao programa dela, ou era adere ao programa dos outros?
Ah, entendi… Nem uma coisa nem outra. E como se faria?
Ela explica: governaria com os melhores do PT, os melhores do PSDB, os melhores do PMDB.
Graaande ideia!
E por que eles adeririam ao governo? Em nome do quê?
Ingressassem como indivíduos, não estariam levando o apoio de seus respectivos partidos; para que os partidos integrassem a base, concessões teriam de ser feitas.
“Ah, mas não será na base da fisiologia…”
Sei.
Eu não tenho, como vocês sabem, uma impressão muito boa sobre o PT, né?
Há até quem diga que eu rosno e lato quando se trata de petismo (ainda não disseram que tenho pulgas, hehe…).
Mas nem este rottweiler é tão mau que imagine que Dilma, podendo contar com o apoio programático, apela à fisiologia só porque é uma malvadona ou porque não prepara os próprios aspargos…
Eu juro que estou doido para a dupla Campos-Marina apresentar, de fato, uma novidade.
Vejam bem: eu não acho que eles estão obrigados a dar à luz algo absolutamente original, como nunca antes na história destepaiz…
Mas precisam parar de tratar a matéria corriqueira da política, à qual eles também se entregam, como se fosse a pedra filosofal.