O bruxo Robinho 01/11/2013
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
A moçada por aqui já há algum tempo embarcou no Halloween, que os americanos inventaram e exportaram, como o hambúrguer, a Coca-Cola, o jeans, o chiclete e tantos outros hábitos deles.
Talvez em homenagem ao Dia das Bruxas o técnico Luiz Felipe Scolari tenha convocado Robinho para os amistosos que a seleção fará no Canadá dentro de alguns dias.
O rapaz andava mais largado do que LP antes de ser resgatado e virar moda de novo. Era peça sobressalente no Milan e agora tem chance de ouro de tornar-se guru dos guris na Copa.
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Dá pra entender? Robinho despontou, uma década atrás, como herdeiro de Pelé - com evidente exagero, vaticínio compreensível por ser cria do Santos, pela habilidade, pelo sorriso e pelo topetinho.
Andou por Real Madrid, City, retornou ao Santos, nos primeiros passos de Neymar como titular, até bater pernas de regresso para a Europa e se fixar na Itália.
Compõe o elenco milanista há um punhado de anos, sem brilho intenso e sem eclipse total. Na base do mezzo aliche, mezzo muzzarella. Você me entende, não é?
Tem momentos em que se destaca, alternados por períodos a esquentar banco. Como ocorreu na temporada passada, em que Massimiliano Allegri o viu como alternativa e não como titular, numa equipe em transição.
Robinho tem sido mais aproveitado, agora, após uma fase de mercado em que o Milan se comportou com sovinice em contratações.
Na semana passada, chamou a atenção pelo desempenho contra o Barcelona, pela Copa dos Campeões, e fez um gol. Motivo suficiente para o resgate por Felipão?
Sei lá. Sei que Robinho deve ser mesmo uma espécie de bruxo, um Harry Potter tupiniquim. Sem contar que algum valor intrínseco carrega, além do fato de pertencer a clubes de ponta, nos quais qualquer drible tem mais repercussão, por exemplo, do que os muitos gols de Ederson, artilheiro do Brasileiro e soberbamente ignorado.
Como explicar, então, o fato de ter disputado dois Mundiais (um com Parreira, outro com Dunga) e, na sequência, ter frequentado listas de Mano Menezes?
Com Felipão, fecha uma quadra de professores que acreditam no talento, na versatilidade, na fama de ser bom de grupo.
Como há jovens em demasia nas convocações, não descarto a alternativa de Robinho atuar como mestre, referência, homem de confiança da Comissão Técnica como já o são Julio Cesar, Daniel Alves, Thiago Silva e Fred (fora de combate por contusão).
Felipão gosta de jogadores nos quais possa confiar. Talvez seja o caso.
Na lista divulgada ontem, se nota a presença de outras novidades: Willian (Chelsea) e Marquinhos (PSG), cultivados na base do Corinthians e que saíram tão logo despontaram.
Ambos jogam direitinho, não há dúvida e são provas do descaso dos clubes com joias brutas que os gringos compram por uma ninharia, lapidam e lucram.
A trajetória do zagueiro Marquinhos, sobretudo, é chocante. Apareceu como revelação na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2012, entrou no time de cima uma ou outra vez até ser liberado para a Roma, por empréstimo e "para ganhar experiência". Tudo vapt-vupt.
Foi, viu e venceu na Cidade Eterna, a ponto de os romanos mandarem para o Corinthians 8,2 milhões para tê-lo em definitivo.
Jogou um Campeonato Italiano, despertou interesse do PSG e teve negociada transferência por um caminhão de dinheiro.
Nessas horas, pergunto onde estavam a ousadia administrativa alvinegra, a visão profissional, o planejamento a médio prazo?
Agora, resta o consolo de bater no peito e falar: "Foi feito aqui".
Grande coisa, pois joga na França e encheu os cofres da Roma, que teve só o mérito, ou a esperteza, de pescá-lo.
Dá pra entender?
A Federação Paulista de Futebol vendeu o peixe como sinal de mentalidade aberta e olhar atento aos anseios dos atletas. Mas o Campeonato Paulista de 2014 é uma salada russa indigesta, pela forma como foi concebido. Parabéns.