Dilma vê profecia de marqueteiro se desfazer 03/11/2013
- DANIEL BRAMATTI E ELDER OGLIARI - Agência Estado
Nos últimos quatro meses, a presidente Dilma Rousseff lançou novos programas, viajou mais pelo País, denunciou a espionagem dos Estados Unidos em discurso na ONU, distribuiu máquinas a centenas de prefeitos e fez três pronunciamentos em rede nacional de televisão - mas nem assim concretizou a previsão de seu marqueteiro, João Santana, de que até novembro recuperaria a popularidade perdida na onda de protestos de junho.
A recuperação de Dilma foi parcial e está empacada há dois meses - depois que a avaliação positiva do governo desabou, entre junho e julho, houve uma leve melhora, em agosto, mas desde então nada mudou. Além disso, houve um acirramento de posições: diferentes segmentos da sociedade - jovens e velhos, ricos e pobres - nunca divergiram tanto sobre a gestão da presidente.
Pesquisa Ibope feita na primeira quinzena de junho, antes que os protestos contra aumentos nas tarifas de ônibus ganhassem caráter nacional, mostrou que 55% dos brasileiros consideravam o governo bom ou ótimo. Um mês depois, a taxa caiu para 31%. Em termos absolutos, o número de eleitores satisfeitos com a gestão passou de 77 milhões para 43,5 milhões - uma queda de 33,5 milhões em 30 dias.
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Em agosto, depois de Dilma responder à pressão das ruas com o lançamento de "cinco pactos a favor do Brasil", a avaliação positiva do governo subiu sete pontos porcentuais - é como se 10 milhões de brasileiros recuassem de sua postura de animosidade. Mas 23,5 milhões não voltaram para o ninho governista - nem em agosto, nem em setembro, nem em outubro.
Nesse contingente que não se deixou convencer pelas políticas de Dilma e pelo marketing de João Santana, há eleitores de todos os tipos, mas alguns segmentos se destacam: os mais jovens, os mais escolarizados, os de renda mais alta e os moradores de municípios médios e grandes.
Questão de idade
Em junho, a taxa de aprovação ao governo era quase igual entre os eleitores de até 24 anos (57%) e os de mais de 55 anos (58%). Os protestos de rua acabaram com essa sintonia. A pesquisa Ibope de outubro mostrou aprovação de 45% entre os mais idosos e de apenas 32% entre os mais jovens. Ou seja, Dilma perdeu quase metade de seus simpatizantes entre os mais novos, e um quinto do apoio entre os mais velhos.
Laís Santos, de 18 anos, disse que já teve "simpatia" pelo governo, mas participou dos protestos de rua e hoje se alinha aos críticos de Dilma Rousseff. Estudante universitária e moradora de Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, ela se enquadra em todos os segmentos mais propensos a resistir ao cortejo governista.
Apesar de ressalvar que tem poucas referências em relação ao passado, Laís acha que "as condições de vida melhoraram nos últimos anos", o que não a impede de apontar problemas na condução do País. A universitária afirma que a corrupção na administração pública chama a atenção: "Os escândalos estão enraizados e podem ser maiores do que os que aparecem na mídia". E reclama do transporte público, que passou a usar com frequência para ir e voltar da faculdade.
No caso da estudante, o afastamento em relação ao governo não significa alinhamento à oposição. "Se eu disser que não estou contente (com o governo), pode parecer que esteja contente com a oposição, mas não gostaria que ela assumisse."
Bolso
A divisão do eleitorado por renda mostra que Dilma se recuperou apenas nas faixas mais pobres. Em junho, a presidente era avaliada positivamente por 13,7 milhões de brasileiros que ganham até um salário mínimo. Em julho, esse número havia caído para menos da metade, mas, até outubro, passou para 12 milhões (88% do patamar inicial).
No segmento que recebe de um a dois salários mínimos, Dilma colhe outro bom resultado: já é aprovada por 75% do contingente que, em junho, via o governo como "bom ou ótimo". Mas o quadro é outro nas faixas de renda acima de dois salários mínimos - nelas, a aprovação a Dilma continua a cair, em vez de se recuperar.
Outro público que se afastou de Dilma e não mostra disposição para "reatar" com a petista é o que tem curso superior. A presidente perdeu metade do apoio que tinha nesse segmento: em junho, era de 48%, e em outubro chegou a 25%.