Ladainha de sempre 05/11/2013
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Chego quase a me compadecer dos repórteres que são escalados para acompanhar as movimentações do PSDB. Como deve ser chato! A pauta é sempre a mesma, não importa o que aconteça no Brasil ou no mundo.
Há pouco mais de um mês, havia a possibilidade de José Serra deixar o PSDB. Uma das alternativas era ir para o PPS, que o queria candidato à Presidência. Ele e o senador Aécio Neves (PSDB) se reuniram. Ficou acertado que o paulista permaneceria no ninho tucano, que poderia transitar livremente debatendo temas que considera pertinentes e que a definição da candidatura — que será inevitavelmente de Aécio se o mineiro quiser — ficaria para o ano que vem. O encontro teve testemunhas.
Muito bem. Leio na Folha desta terça, em reportagem de Marina Dias, que os tucanos querem antecipar a candidatura, definir tudo o mais rapidamente possível porque, vejam só, algumas palestras que Serra anda conferindo aqui e ali estariam… atrapalhando Aécio!!! O deputado Carlos Sampaio (SP), líder da bancada na Câmara, afirma:
“Para que aguardar até março se há um sentimento de certeza na bancada e nos diretórios estaduais do PSDB sobre a candidatura de Aécio? Essa indefinição, somada às movimentações de Serra, cria ambiguidade e tira a capacidade de articulação política do Aécio”.
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Não entendi o que Sampaio quis dizer e duvido que ele próprio tenha entendido. Alguém seria capaz de explicar como o fato de Serra conferir uma palestra em São Paulo ou na Bahia retira a “capacidade de articulação política de Aécio”?
Leio ainda na reportagem da Folha: “Interlocutores afirmam que Aécio já sente a necessidade de firmar alianças com siglas como o DEM e o Solidariedade, além de iniciar conversas com o PV e o PPS”. Além de pré-candidato à sucessão de Dilma, ele é presidente do partido. O que o impede de fazer essas articulações? De que modo Serra poderia estar tolhendo seus movimentos? Há mais: “O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o senador Aécio Neves (MG) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniram ontem no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, para costurar a antecipação do anúncio da candidatura do PSDB à Presidência da República”.
Então tá…
Vejam só… Aécio será o candidato se quiser; tem hoje o domínio total da máquina partidária; conversa livremente com quem desejar; pode lançar os temas e as teses que julgar convenientes sem dar satisfações a ninguém (a esmagadora maioria concordará); tem estrutura e condições de circular livremente pelo país etc. Pergunto de novo: quais são os obstáculos criados por Serra?
Só um evento formidável tiraria de Dilma a condição de candidata à reeleição. Isso é, então, certo, mas ela não precisa, desde já, se apresentar para a disputa. O cargo lhe dá a visibilidade de que precisa. Seu discurso já é agressivamente eleitoreiro, mas, para todos os efeitos, cuida apenas de governar o país. E ainda conta com Lula. No PSB, não se sabe se Eduardo Campos, Marina ou ambos vão para o confronto. Vai ficar para mais tarde.
Será mesmo uma boa ideia lançar já a candidatura de Aécio? Será mesmo virtuoso transformá-lo, desde já, no alvo da máquina de desqualificação do “partido oficial”? Será mesmo conveniente que tudo o que diga passe a ser filtrado, desde agora, pela ótica de 2014? No que respeita à economia interna, será mesmo desejável desfazer um acordo que tem pouco mais de 30 dias — acordo que, reitero, não tolhe em absolutamente a movimentação do senador?
Observem: desta feita nem mesmo se está a seguir a solução salomônica antes vigente no PSDB quando havia dois pré-candidatos. Na eleição anterior, por exemplo, Aécio dividiu com Serra o horário político até a undécima hora. Isso, hoje, também é coisa superada. O senador mineiro é senhor absoluto do tempo.
Uma sugestão
Tenho uma sugestão aos tucanos — já devo tê-la feito em algum momento. Acordam, tomam um banho, escovam os dentes, vestem-se, tomam o café da manhã e prometem: “Hoje nós vamos gerar notícia fazendo um embate com os nossos adversários, não com os aliados”.
O que lhes parece? Deixar que o noticiário sobre o partido vire refém dessa questão é um erro grave. Até porque, caso se antecipe a definição da candidatura, o que se vai noticiar depois?