Vigarices virtuais 06/11/2013
- Blog de Augusto Nunes - Veja.com
Em 26 de abril de 2012, ciceroneados pelo risonho vendedor de nuvens, a presidente Dilma Rousseff e o governador Sérgio Cabral baixaram no litoral do Rio para deslumbrar-se com as duas façanhas mais recentes de Eike Batista: o começo da produção de petróleo da OGX na Bacia de Campos (iniciada oficialmente três meses antes) e os trabalhos de parto, em São João da Barra, do Superporto do Açu.
Só “porto”, sem o “super”, pareceu muito pouco para um megaempresário, que enfeitou a segunda vogal de Açu com um acento tão justificável quanto a euforia da comitiva.
O vídeo registra parte da discurseira que celebrou, ao fim do passeio, a audácia, o tirocínio e a onisciência do oitavo colocado no ranking mundial dos bilionários da revista Forbes.
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“Eu quero dizer, Eike, que pra nós é um grande orgulho, e o Brasil precisa cada vez mais reconhecer os seus empreendedores”, derreteu-se Cabral.
O governador faz uma pausa ligeiríssima, olha Eike nos olhos e capricha na bajulação em dilmês de principiante: “E você dando continuação a esse grande brasileiro que é o seu pai, assim como a Dilma dando continuação ao grande brasileiro que é o Lula”.
A presidente pega o bastão e solta outra peróla do dilmês erudito: “Eu acho que uma empresa privada de petróleo tem todo sentido no Brasil, sobretudo pelo fato de que aqui temos uma empresa privada nacional de petróleo”, derrapou Dilma Rousseff.
Em seguida, a chefe de governo e o chefão do império virtual posam para a posteridade vestindo jaquetas da OGX.
Encerrada a cerimônia, o comício ufanista prosseguiu com a entrevista coletiva.
“Mais empresários deveriam seguir o exemplo do Eike Batista” , aconselhou a presidente. ”Tanto o primeiro óleo de uma empresa nacional privada de petróleo como toda a realidade desse porto integrado merece nosso respeito e merece da parte do governo, vocês podem ter certeza, toda a atenção e todo o suporte”, emocionou-se o neurônio solitário.
Que, antes de decolar rumo a Brasília, avisou que esperaria o início das operações do superporto, ainda em 2012, para voltar a São João da Barra.
Se a condicionante for mantida, a cidade jamais verá Dilma de novo.
O segundo vídeo foi concebido para mostrar ao mundo o que acontece quando um empresário genial age em parceria com uma supergerente de país.
Menos de dois anos depois de divulgado, é só outra evidência do que é capaz de fazer um fabricante de tapeações virtuais protegido por um neurônio solitário e poderoso.
Enquanto maquetes, gráficos e outras formas de ilusionismo desfilam na tela, uma boa voz despeja números hiperbólicos e garante que o céu é o limite.
Deu no que deu. O império está em escombros, mas Eike não ficou pobre. Os pagadores de impostos terão de bancar o prejuízo decorrente do golpe bilionário.
Como Lula, Dilma não para de gabar-se de assombros que ninguém vê. É compreensível que se tenha deslumbrado com um superporto que morreu sem ter nascido e uma empresa que encheu trilhões de barris com petróleo inexistente.
O padrinho é um Eike de palanque. A afilhada é um Eike de terninho -- e incapaz de dizer coisa com coisa.