Reincidentes de nascença não têm cura 14/11/2013
- Blog de Augusto Nunes - Veja.com
Os desdobramentos das investigações sobre a máfia do ISS confirmam que, sempre que coloca testas inimigas na alça de mira, o PT acaba acertando o próprio pé.
Desta vez, coube a Fernando Haddad o papel de atirador trapalhão.
Decidido a compensar com gestos espetaculosos os estragos político-eleitorais causados pela superlativa elevação do IPTU, o prefeito enfiou-se na fantasia de faxineiro do Planalto de Piratininga e desencadeou a guerra de extermínio contra a multidão de larápios que herdou de Gilberto Kassab.
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Na terça-feira, atropelado por gravações constrangedoras e nomeações muito mal explicadas, o secretário de Governo Antonio Donato teve de deixar o cargo.
É a baixa mais vistosa desde o início dos barulhos. E é só a primeira, previnem as suspeitas que rondam o secretário Jilmar Tatto e outras velharias que cercam aquele que seria, segundo marqueteiros sempre inventivos, um novo homem para um novo tempo.
Quem esconde fantasmas no sótão da própria casa não deve procurá-los no porão do vizinho, advertiu o post aqui publicado em maio de 2012 e agora reproduzido na seção Vale Reprise.
O texto se inspirou na CPI do Cachoeira, planejada em abril daquele ano por Lula e José Dirceu.
Na cabeça da dupla, a operação que mobilizou a base alugada fulminaria com uma bala de prata dois alvos goianos -- o senador Demóstenes Torres, do DEM, e o governador tucano Marconi Perillo.
Deu tudo errado. O projétil ricocheteou no companheiro Agnelo Queiroz, governador de Brasília, provocou ferimentos de bom tamanho no parceiro fluminense Sérgio Cabral e seguiria fazendo vítimas entre os aliados se a CPI não fosse sepultada às pressas pelos pais da ideia de jerico.
Tem sido assim desde janeiro de 2002, quando Altos Companheiros apareceram no velório de Celso Daniel para animá-lo com o jogral das viúvas inconsoláveis.
Meses antes, começou o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, panfletos apócrifos distribuídos em São Paulo avisaram que uma organização de extrema direita decidira liquidar fisicamente políticos petistas, mas o governo FHC ignorou os sinais de perigo.
Em novembro de 2001, continuou o deputado Aloizio Mercadante, o prefeito Toninho do PT fora morto a tiros numa avenida de Campinas.
O assassinato do prefeito Celso Daniel, concluiu o deputado José Dirceu, confirmou que os extremistas não estavam brincando. Agora era tarde, lastimou em coro a trinca inconformada com a insensibilidade dos tucanos no poder.
Já na largada das apurações policiais ficou claro que a misteriosa organização era tão real quanto a transposição das águas do Rio São Francisco.
Em seguida, uma enxurrada de evidências comprovou que Celso Daniel fora silenciado por integrantes de um esquema corrupto montado, com o incentivo e a proteção do próprio prefeito, para extorquir empresários do setor de transportes.
Ao descobrir que alguns sócios na roubalheira estavam embolsando o dinheiro que deveria desaguar exclusivamente nos cofres do PT, Celso Daniel comunicou que denunciaria o desvio do desvio.
Antes que cumprisse a ameaça, foi eliminado a mando de ex-parceiros que orbitavam em torno da estrela vermelha.
Faz quase 12 anos que a força-tarefa coordenada por Gilberto Carvalho tenta transformar em homicídio comum um crime político.
Não conseguiu. Nem vai conseguir, alerta a ofensiva do Ministério Público que já conseguiu a condenação de vários acusados e agora fecha o cerco em torno de Sérgio Gomes da Silva, o Sombra.
A instauração da CPI do Cachoeira provou que a companheirada não aprendera com o assassinato de Celso Daniel.
O despejo do principal secretário de Haddad acaba de provar que a lição da CPI do Cachoeira não foi assimilada.