Corinthians irritante 18/11/2013
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Perdi a conta das vezes nas quais me referi ao Bom Retiro nas crônicas do jornal. Por ser fonte de inspiração e exalar sabedoria popular.
Hoje mais do que nunca, convém citar, e logo no primeiro parágrafo, o paulistaníssimo bairro, berço do Corinthians.
Pois naquele pedaço especial da cidade, as comadres que falavam da vida de todo mundo estariam reunidas na calçada a comentar que o time alvinegro dá nos nervo, provoca réiva, tira qualquer um do sério e mandariam uma meia dúzia de jogadores lamber sabão.
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Pena que tias e nonnas viraram lenda, e suas casas sucumbiram à especulação imobiliária.
As donas de casa estariam entupidas de razão. Ver o Corinthians em ação transformou-se, nesta temporada, em teste de paciência ou de paixão desvairada. Só com sangue frio ou por cegueira sentimental pra não mudar de canal e assistir a desenho animado, filme, programas de vendas eletrônicas, sessão de exorcismo, ao invés de acompanhar o show de horrores do gramado.
Inacreditável a decadência de um grupo que um ano atrás, por estes dias, se preparava para embarcar para o Japão, numa aventura vitoriosa e marcante. Com algumas mudanças, a formação que conquistou o Mundial de Clubes em cima do Chelsea é a mesma que faturou o Paulista e a Recopa, mas derrapou na Libertadores de 2013 e deixou de jogar no Brasileiro. A moçada parece ter antecipado os protestos do Bom Senso FC, pois cruzou os braços há meses, muito antes dos colegas que tiveram gesto semelhante na rodada passada - mas por apenas um minuto!
O encanto corintiano virou fumaça como o programa de lazer de quem ficou até 13 horas pra descer para a praia no fim de semana prolongado. Os que ficaram em São Paulo e resolveram ir ao Pacaembu sentiram frustração e ira semelhantes às daqueles que almoçaram, tomaram café da tarde e jantaram dentro dos carros no meio da serra.
Romarinho, Douglas, Danilo, Renato Augusto, Emerson e outras figurinhas carimbadas brindaram o público com outro espetáculo de mau gosto e nível baixo. Jogaram uma bola murcha, enfrentaram o Vasco em ritmo de férias. Na prática, fizeram o contrário do papo apregoado durante a semana, de que jogariam por Tite, que a Libertadores de 2014 era sonho ainda possível, que restava um objetivo a perseguir.
Conversa mole pra boi dormir. Como imaginar vaga no torneio continental se, com o empate de ontem, já são 16 no total - nove por 0 a 0 e sete por 1 a 1?! Como ter a cara de pau de tocar em tema delicado com um chute correto a gol? Faltam três jogos, um punhado de concorrentes na frente, um futebol medíocre e se desvia o foco com lorota dessa amplitude?! (E o Vasco, com uma equipe horrível, também planeja sair da zona de rebaixamento? Sei...)
Nota-se que tem gente desconfiada de que sairá com Tite, tão logo acabe a participação corintiana na Série A. Alguns com brilhantes serviços prestados, chispam com a sensação de dever cumprido e que já foram tarde. O próprio treinador jogou a toalha, apesar do discurso moderadamente otimista e do tom messiânico das declarações. O peso da demissão disfarçada em ruptura consensual se faz presente mais do que nunca.
Passa o giz, Corinthians, e recomece pra valer em 2014. Feliz Natal.
Tricolor ressuscita tricolor
O São Paulo foi ao Rio com escalação alternativa (o apelido bem comportado para mistão), provocou ligeiro susto no Flu, ao ficar em vantagem, para em seguida render-se às limitações e tomar a virada. Resta para Muricy e seus rapazes a Sul-Americana para fechar o ano com algo digno de registro. Melhor para os cariocas que, assim, respiram aliviados e menos próximos da turma da degola.
Peixe frito
O Santos foi a Salvador com a mesma disposição do Zé Carioca quando se fala em trabalho. Viajou em ritmo de férias e perdeu para o Vitória por 2 a 0. Se fosse a diretoria, deixava um bloco por lá, para curtir as festas de fim ano. Lucraria mais.