Final trágico 09/12/2013
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
O Brasileiro de 2013 virou a última página, na tarde de ontem, com dois episódios trágicos: do ponto de vista esportivo, houve a queda de Fluminense e Vasco, que formam com Ponte Preta e Náutico o quarteto mandado para a Série B.
No aspecto de civilidade, com a briga entre atleticanos e vascaínos em Joinville. Quatro jovens se feriram depois da enésima batalha campal nos estádios do país.
As causas do declínio de duas importantes agremiações são variadas.
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O Vasco carrega o carma pesado dos anos de administração egocêntrica e ultrapassada de Eurico Miranda.
A mudança de comando, com Roberto Dinamite, trouxe ares novos, pero no mucho. A gestão do ex-atacante e ídolo do clube nem de longe pode ser vista como modelo de excelência.
Os reflexos vieram, nos últimos tempos, com rebaixamentos, degradação do patrimônio, dificuldades financeiras, perda de talentos.
Falta de planejamento e de rumo sobressaíram na atual temporada, com trocas de comando e vasta incompetência. Não deu outra: embarque para a Segundona selado com a surra diante do Atlético-PR.
O Fluminense pagou por desleixo e acomodamento. Com o título de 2012, ficou a impressão de que tinha elenco forte e impecável.
Como a base foi mantida, parecia barbada que novas conquistas se seguiriam. No entanto, as limitações despontaram no estadual pífio, depois na fraca atuação na Taça Libertadores e avultaram na Série A.
A cartolagem entrou em atrito, primeiro para demitir Abel Braga e, ainda, para contratar Vanderlei Luxemburgo.
No meio tempo, alguns jogadores debandaram (por transferências ou aposentadoria), Fred ficou fora de combate, os resultados decepcionantes assustavam e houve demora para desbancar Luxemburgo do cargo.
Dorival Júnior foi chamado na tentativa de salvar o ano -- péssimo para ele (com passagens sem brilho no Fla e no Vasco) e desastroso para o Fluminense.
Triste e prejudicial para o futebol do Brasil o período de purgatório pelo qual terão de passar tricolores e vascaínos.
Indigno, preocupante e mais devastador para a sociedade é o clima de terror que predomina nas arquibancadas.
Um espaço democrático, de lazer e interação virou território de bandos, que se deslocam por onde quiserem com a certeza de que nada lhes vai acontecer.
Brigam, se agridem, afrontam todo mundo. Mais tarde, seguem para casa escoltados, protegidos, amparados mais do que torcedor pacato.
As imagens medonhas e revoltantes que a tevê mostrou, no campo em Santa Catarina, deixaram claro que o confronto não partiu do cidadão que buscava apenas uma agradável tarde de domingo.
Os grupos paramilitares disfarçados com camisa dos clubes -- ou com peito nu, mas dá no mesmo -- partiram para mais uma refrega com a desenvoltura dos que se sentem acima da lei.
Não se pode falar em vítimas, no sentido amplo da palavra, de pessoas que não tiveram como fugir a uma fatalidade e sofreram dano físico.
Houve um punhado de imbecis que se deram mal em duelo já esperado.
Quem apanhou de fato foi o público sereno, com o medo a espalhar-se até entre jogadores.
Os clubes, no mínimo omissos diante do poder de organizadas, são míopes e não percebem o enorme prejuízo que tal promiscuidade lhes provoca. Pois abrem mão do fã fiel em troca do apoio de energúmenos e vigaristas.
Não convenceu o surto de solidariedade de dirigentes vascaínos, que pediam suspensão do jogo em nome das vidas em risco.
Dinamite falou que no momento não estava interessado em rebaixamento.
Muito bem. Tirasse a equipe do gramado, suportasse consequências e mereceria aplauso de gente de bem. Conversa.
Basta também de hipocrisia de tribunais esportivos, que punem times com mudança de local da partida, mas permitem a presença de quem provocou confusão.
E chega de papo furado de autoridades. Há fartura de imagens para localizar pilantras e puni-los. O que as impede?