Viva a Série B! 18/12/2013
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Até dias atrás, fazia ressalvas impiedosas à festa de times grandes que conquistavam a Série B. Considerava a manifestação de alegria uma prova de apequenamento recheada de hipocrisia.
Em minha avaliação, peixes graúdos como Palmeiras, Corinthians, Atlético-MG, Grêmio, Vasco deveriam fingir-se de folha nessa hora e colocar na penumbra das salas de troféus o prêmio erguido na Segundona. O sinal de incompetência não poderia ficar à vista de todos.
Pois aproveito o espírito natalino e me penitencio com os gentis leitores que têm a paciência de me acompanhar quatro vezes por semana neste espaço nobre. Eu estava errado, e muito. Cometi tal equívoco baseado em soberba pessoal e na tradição de todos os clubes que citei acima.
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Agora constato que a Divisão de Acesso tem poder de purificar, aprimorar, engrandecer os gigantes que a disputam. Num primeiro momento, representa castigo duro pelas derrapadas bruscas que deram na temporada anterior. Se foram rebaixados, mereceram, por aquilo que deixaram de mostrar. Que tratem, então, de resgatar autoestima e lugar na elite. Dentro de campo.
Salvo exceções, as equipes aprendem a lição e se fortalecem. O Palmeiras, após amargar o primeiro descenso, jogou o suficiente para participar da Libertadores de 2005. O Grêmio, idem, anos depois. O Corinthians caiu em 2007, regressou em 2008, ganhou em seguida tudo a que tem direito. O ponto alto foi o Mundial de 2012. O Galo Mineiro está em caminho semelhante.
Eles pagaram o preço imposto por falta de planejamento prévio, vagaram pelo purgatório, suaram em deslocamentos por ônibus e por apresentações em praças mais distantes. Cresceram, tornaram-se dignos - e, com eles, seus respectivos fãs. Alguns, como os palestrinos, passaram pela provação uma segunda vez. Não houve desconto na punição. Merecida, portanto, a comemoração quando veio a certeza do retorno e, depois, a taça, símbolo do aprendizado, da dedicação, da redenção.
Vasco e Portuguesa terão de encarar a fase de expiação em 2014, desde que não surjam fatos e recursos novos nas próximas semanas. O primeiro dos representantes lusos caiu por sucessão de vexames, o último deles com os 5 a 1 para o Atlético-PR e com briga de torcidas. Esboçou apelo ao tapetão, e foi tiro n'água. A segunda teve confiscados quatro pontos obtidos com suor, numa campanha de reação emocionante no returno. Mas, o que adversários não conseguiram na bola, um grupo de auditores lhe tomou no carpete de uma sala de tribunal. Com justificativas de condenação bem redigidas, aparentemente sem improvisos.
Não houve apelação para a Lusa. A justificativa dos senhores de paletó e gravata para a execução sumária foi a de que se tratava de questão técnica, sem margem para interpretações e atenuantes. O ladrão de galinha condenado à cadeira elétrica, sem a alternativa de pena mais branda. O regulamento não previa brechas, afirmaram doutos frequentadores do local.
Triste sina da Lusa. Deprimente, porém, a euforia de outra torcida, que comemorou cada voto dos jurados como se fosse gol da própria equipe. Gols que não marcou durante o Brasileiro, pois seus astros não tiveram capacidade para tanto.
Sem se darem conta, essas pessoas se comportaram como seguidoras de um clube menor, salvo pela toga e não por dribles. A permanência na Série A parece uma vitória, e não é; ao contrário, mascara deficiências de uma agremiação tradicional e aturdida. Não por acaso sofreu a quarta queda em década e meia. Retrospecto preocupante.
A Lusa voltará robustecida; e, se for campeã, que festeje muito. Como os demais. Viva a Série B.
Galo em campo
O Bayern de Munique nem deu bola para a zebra chinesa e picotou bilhete para a final do Mundial de Clubes. Hoje é a vez de o Atlético-MG fazer a parte dele, contra o Raja Casablanca. Fica a torcida para Ronaldinho e companheiros.