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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O perigo de largar tudo
23/12/2013 - PAULO CALÇADE - O Estado de S.Paulo

Na noite do dia 24 de julho de 2013, o Atlético Mineiro parou no tempo. Ainda no gramado do Mineirão, em Belo Horizonte, após derrotar o Olimpia por 4 a 3 nos pênaltis e conquistar a Copa Libertadores da América, o clube passou a mirar a decisão do Mundial de Clubes contra o Bayern de Munique, marcada para 21 de dezembro, no Marrocos.

Foram quase cinco meses dedicados a uma espera que não pode ser definida como preparação. A nenhum time ou seleção do planeta convém apagar cinco meses de sua existência para dedicar-se a um minúsculo mata-mata dessa maneira.

O torneio entre os campeões continentais não é mais importante do que a Copa Libertadores ou a Liga dos Campeões, mas não deve ser desprezado. Para os sul-americanos, a vitória é uma espécie de validação de tudo o que foi feito, um atestado de grandeza. É natural que ela tenha um peso maior neste pedaço do planeta, pois é tratada como uma equiparação de forças com a Europa, geralmente competindo em condições muito mais favoráveis em todos os sentidos.


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Enxergar nos europeus um certo desprezo pelo evento é exagero. Enquanto por aqui os times brasileiros normalmente têm uma queda acentuada de rendimento entre a Libertadores e o Mundial, não existe essa possibilidade para potências como Bayern, Barcelona, Real Madrid ou Manchester United, por exemplo.

Com a agenda repleta de jogos importantes, um hiato desse tipo que os brasileiros estão acostumados a fazer seria o caos. Além de todos saberem, repito, que a Champions é o que existe de mais importante no calendário do futebol.

Veja a situação do Atlético Mineiro, a derrota para o fraco Raja Casablanca parece ter aniquilado a conquista da Libertadores, agora o grupo volta para casa com o fracasso bordado na camisa. Como é que pode o torcedor do Galo, no ano do maior título de sua história, terminar 2013 triste?

Parte dessa resposta é a necessidade de um futebol que, por estar sempre por baixo, transforma o embate e a vitória sobre a elite numa vitamina para diminuir o sentimento de inferioridade. Mas poderia ser diferente, a começar pelo calendário. É fato que o desgaste físico e emocional de uma conquista abala as estruturas técnicas de qualquer grupo. Tirando o Internacional, campeão mundial de 2006 sobre o Barcelona e vice no Brasileiro daquele ano, os últimos times nacionais que disputaram a competição da Fifa largaram tudo por aqui para enfrentá-la.

É fundamental reconhecer que a recuperação dessa corrosão da alma do jogador acontece com a bola rolando no Campeonato Brasileiro. De fora pode parecer simples, mas é diferente quando uma equipe vence a Liga dos Campeões e em seguida entra em férias. No Brasil, o calendário vai espalhando decisões ao longo da temporada, e as crises se tornam inevitáveis.

Vencer o Estadual pode não significar muito, mas a derrota tem um peso desproporcional quando comparada à vitória. O problema não é só a quantidade de partidas e o encaixe delas na temporada, mas a sua distribuição, são dúzias de rodadas encavaladas.

O Bayern de Munique de Pep Guardiola era favorito para vencer o Mundial de Clubes da Fifa. A competição disputada no Marrocos refletiu o tamanho atual do time alemão, seu elenco e todas as suas conquistas ao longo de 2013, como a Bundesliga, a Copa da Alemanha e a Champions. A surpresa, porém, estava no adversário.

A vaga na final, que parecia ser do Atlético Mineiro, foi ocupada pelo Raja Casablanca, do Marrocos, responsável pela derrota do time brasileiro na semifinal. Sem menosprezo ou patriotada, a essência do futebol é justamente essa, é nem sempre refletir a lógica, pois o campo está aí para desmenti-la, mas o Galo jogou muito mal, vacilou bonito. O que adiantou esperar quase cinco meses por essa oportunidade? A melhor preparação é deixar a vida fluir normalmente.

  

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