Desastre e fiasco na inflação 12/01/2014
- O Estado de S.Paulo
O governo descumpriu mais uma promessa e fracassou mais uma vez no esforço de maquiar os índices de inflação. Os preços ao consumidor subiram 5,91% em 2013, mais que no ano anterior, quando a alta havia chegado a 5,84%.
A presidente Dilma Rousseff e sua equipe haviam prometido um resultado melhor que o de 2012 e tentaram manter essa retórica até o fim do ano. Mas isso foi apenas parte do fiasco.
As autoridades, em vez de atacar as pressões inflacionárias, tentaram administrar estatísticas.
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Controlaram politicamente os preços dos combustíveis, as tarifas de transporte público e as contas de eletricidade, além de encenarem uma desoneração da cesta básica.
Também a redução de impostos sobre vários bens duráveis pouco serviu para tornar muito melhor o resultado geral.
Todos os truques falharam como freios do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Podem ter impedido um número bem mais feio, mas não evitaram um resultado oficial pior que o do ano anterior e, portanto, mais longe de 4,5%, meta já muito alta pelos padrões internacionais.
Nada garante um cenário muito melhor em 2014. Os primeiros indicadores do ano já trouxeram más notícias. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) havia fechado dezembro com alta de 0,69%. Nas quatro semanas até 7 de janeiro a variação chegou a 0,73%.
Essa pesquisa é renovada semanalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e cobre sempre um período equivalente a um mês.
Em São Paulo, a primeira prévia do IPC da Fipe também indicou a aceleração dos aumentos. Na primeira quadrissemana houve alta de 0,74%, maior que a constatada na última apuração de dezembro (0,65%) e bem mais ampla que a observada na primeira medição do mês passado (0,45%).
As expectativas do mercado também são ruins. Na primeira pesquisa Focus do ano, realizada pelo Banco Central (BC) em 3 de janeiro, a mediana das previsões para a alta do IPCA em 2014 chegou a 5,97%. Mas o pessoal consultado na pesquisa havia subestimado o número final de 2013 e ainda apostava em 5,74% -- um resultado lamentável, mas pouco melhor que o de 2012.
Economistas de instituições financeiras e de consultorias são acusados, muitas vezes, de formular projeções pessimistas para pressionar as autoridades a manter os juros altos. Mas suas estimativas têm sido desmentidas, em alguns casos, por números piores que os previstos.
Na prática, um aumento do IPCA pouco maior ou pouco menor que o do ano anterior faz pouca diferença, O significado do desvio, neste caso. é principalmente simbólico, político e até moral e nisso consiste sua maior importância.
Escancara mais uma vez a baixa qualidade de uma política econômica marcada pela incompetência, pelos erros de diagnóstico e, para dizer o mínimo, pelo empenho em maquiar os sinais e deixar os problemas intactos.
Autoridades tentaram durante algum tempo atribuir as pressões inflacionárias principalmente a fatores externos. O grande problema seria o aumento das cotações internacionais das commodities.
Mas em 2013, os produtos agropecuários ficaram 1,76% mais baratos no atacado, segundo a FGV, e o custo da alimentação continuou subindo no varejo.
Continuou subindo porque havia no País um ambiente inflacionário: crédito fácil na maior parte do ano, emprego elevado (e pouco produtivo), salários em alta e gastança pública desatada - e dificilmente refreável, agora, em ano de eleição.
O índice de serviços do IPCA subiu 8,74% em 2012 e 8,75% em 2013, bem mais que a média dos preços nos dois anos (5,84% e 5,91%).
Há uma evidente pressão da demanda, complementada, do lado oposto, por fortes pressões de custo. O exemplo mais visível é a sequência de aumentos salariais bem acima dos ganhos de produtividade.
Dirigentes do BC, apesar da conversa sobre inflação importada, apontaram mais de uma vez esses problemas.
Mas têm sua fatia de culpa: assumiram o risco de alinhar sua política às preferências da presidente Dilma.
Erraram e só voltaram a elevar os juros quando sua imagem estava manchada. Mas o maior prejuízo foi mesmo para o País.