A esquerda bocó já está de olho no rolezinho… 13/01/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Esquerdistas bocós (existem os não-bocós?) já estão de olho no “rolezinho”. Aqui e ali, noto a vocação ensaística de alguns dos meus coleguinhas na imprensa.
Já há gente, assim, treinando o olhar para teorizar sobre mais essa erupção -- e irrupção -- da luta de classes. É fácil ser bobo. Fosse mais difícil, não haveria tantos bobalhões.
Daqui a pouco o Gilberto Carvalho chama os teóricos dos “rolezinhos” para um bate-papo no Palácio do Planalto.
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O “rolezinho”, que até pode ter começado como uma brincadeirinha irresponsável nas redes sociais, está começando a virar, vejam vocês!, uma questão política -- ao menos de política pública.
A coisa pode ser tornar mais séria do que se supõe.
Infelizmente, noto que muita gente, inclusive na imprensa, está tentando ver essas manifestações como se fossem uma espécie de justa revolta de jovens pobres contra templos de consumo da classe média.
Isso é uma tolice, um cretinismo. Os shoppings têm se caracterizado como os mais democráticos espaços do Brasil.
São áreas privadas de uso público, muito mais seguras do que qualquer outra parte das cidades brasileiras.
Os pais preferem que seus filhos fiquem passeando por lá a que façam qualquer outro programa, geralmente expostos a riscos maiores.
É uma irresponsabilidade incentivar manifestações de centenas ou até de milhares de pessoas num espaço fechado.
Ainda que parte da moçada queira apenas fazer uma brincadeira, é evidente que marginais acabam se aproveitando da situação para cometer crimes, intimidar lojistas e afastar os frequentadores.
Esse negócio de que se trata de uma espécie de revolta dos pobres contra os endinheirados é uma grossa bobagem.
Boa parte dos shoppings de São Paulo, hoje em dia, serve também aos pobres, que ali encontram um espaço seguro de lazer.
A Polícia precisa agir com inteligência para que se evite tanto quanto possível o uso da força. É necessário mobilizar os especialistas em Internet da área de Segurança Pública para tentar identificar a origem dessas convocações.
É preciso, em suma, chegar à raiz do problema. As redes sociais facilitam essas manifestações, como todos sabemos, mas é evidente que elas não são espontâneas.
Há pessoas convocando esse tipo de ação, que pode, sim, como se viu no Shopping Metrô Itaquera, degenerar em violência.
No dia em que os shoppings não forem mais áreas seguras, haverá fuga de frequentadores, queda de vendas e desemprego.
E é certo que estamos tratando também de um sério problema de segurança pública.
Num espaço fechado, em que transitam milhares de pessoas, inclusive crianças, os que organizam rolezinhos estão pondo a segurança de terceiros em risco.
E que ninguém venha com a conversa de que se trata apenas do direito de manifestação num espaço público.
Pra começo de conversa, trata-se, reitero, de um espaço privado aberto ao público, que é coisa muito distinta.
De resto, justamente porque os shoppings têm essa dimensão pública, não podem ser privatizados por baderneiros que decidiram ameaçar a segurança alheia.
Encerro notando que o Brasil precisa ainda avançar muito na definição do que é público. Infelizmente, entre nós, muita gente considera que público é sinônimo de sem-dono.
É justamente o contrário: o público só não tem um dono porque tem todos.