Força e fraqueza do futebol 28/01/2014
- Luiz Zanin - O Estado de S.Paulo
Amigos, confesso que ando preocupado. Nunca pensei que o ano da Copa no Brasil fosse começar com tantos maus presságios.
No aniversário de São Paulo tivemos mais um protesto violento desse grupo que se autointitula "Não vai ter Copa".
Um rapaz acabou ferido a bala. Há o caso desse rebaixamento da Portuguesa no tapetão que, quanto mais se mexe, mais enrolado fica.
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A nebulosa negociação de Neymar terminou com a demissão de Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, amigo e sócio de Ricardo Teixeira.
Isso para não falar no preço dos estádios, obras atrasadas, promessas de mobilidade urbana que foram para o espaço, além dos bate-bocas com a Fifa.
Enfim, se me permitem, a impressão é que o mundo do futebol é mais sujo que pau de galinheiro, para usar essa expressão antiga, não muito polida nem muito limpa, mas muito eloquente. Vamos por partes.
Esses movimentos desvairados de rua puderam ter, no passado, alguma longínqua motivação sadia, mas descambaram para uma contestação infantilóide - e nem por isso menos perigosa.
Acho perfeitamente válido que se conteste o uso de dinheiro público em estádios e que se exija "padrão Fifa" para os lamentáveis serviços públicos do País.
Mas não me parece sensato declarar que não haverá Copa, quando se sabe que Copa vai haver e, se for boa, todos nós ganharemos com isso, mesmo que não recebamos aquilo que algum dia nos prometeram.
Aliás, legado de Copa é sempre problemático, a não ser o dos estádios, mas mesmo estes são formatados para um público de elite.
Mas se a Copa for boa, passará boa imagem do Brasil, incrementará o turismo etc. Ganhamos todos, embora alguns ganhem mais que os outros.
O que não interessa a ninguém é um vexame, embora vários setores torçam mais por isso que pela seleção brasileira.
Enfim, essa torcida contra seria ainda mais previsível quando lembramos que, além de ano de Copa, 2014 é também de eleições.
Saímos da disputa no gramado para a briga em um jogo muito maior e cheio de interesses que é a política.
Seria mesmo ingênuo supor que um não tenha a ver com o outro. Os primeiros movimentos de rua deste verão indicam que não haverá tréguas ao longo do ano e, sobretudo, durante a Copa do Mundo, em junho.
Além disso, há esses casos pontuais que surgem, como esse inacreditável caso da Portuguesa, muito mal explicado até hoje.
Agora o promotor do Ministério Público vê "fortes indícios" de que alguém no próprio Canindé recebeu dinheiro para escalar o meia Héverton e expor o clube à punição.
Sendo assim, será preciso chegar a esse alguém e, acima de tudo, ver quem ou qual instituição o pagou.
Será que desta vez a investigação vai até o fim ou, como de outras, para nas instâncias mais superficiais para que os grandes vilões sejam poupados?
Da mesma forma, gostaríamos de saber de todos os detalhes da negociação de Neymar com o Barcelona.
Diante da crise aberta pela denúncia de um jornal espanhol de que os valores seriam muito maiores que os anteriormente anunciados, o clube catalão demitiu o presidente Sandro Rosell e abriu as cifras do contrato.
Inclusive a parte que se refere aos 40 milhões (!) depositados na conta da empresa N&N, da família Neymar.
Agora, vem cá: essa dinheirama toda não teria de passar pelo fisco brasileiro? Ou só você e eu temos de prestar contas à Receita de cada centavo suado?
Outra perguntinha: o acordo já estava sagrado quando o Santos de Neymar levou a biaba de 4 a 0 do Barcelona na final do Mundial de Clubes em 2011?
Em caso afirmativo, isso não configura um caso flagrante de conflito de interesses? Ou alguém se esquece da desenvoltura do craque indo abraçar os futuros companheiros do Barça após a derrota humilhante do seu time?
O futebol é um jogo maravilhoso. Não existe nada de tão emocionante nem de tão belo quanto uma partida bem disputada entre dois grandes times. Os lances dos craques nos encantam.
Por sua força, o futebol cercou-se de poderosos interesses, políticos e econômicos. Essa força é sua maior fraqueza, e poderá acabar com ele um dia.