O berro do Parreira 29/01/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Pessoal, 2014 promete fortes emoções ligadas ao esporte. Nem arrancamos o mês de janeiro da folhinha e se acumulam burburinhos: o caso Lusa, atrasos em estádios, a transferência de Neymar, os protestos contra a Copa.
O barulho de começo de semana fica para Carlos Alberto Parreira. O treinador campeão do mundo em 1994 e hoje assessor de Felipão meteu a boca no megafone ao descer a lenha na preparação para a Copa de logo mais.
Em entrevista à rádio CBN, foi taxativo ao afirmar que perdemos excelente oportunidade de mostrarmos um Brasil com cara diferente e em condições de dar conforto ao povo.
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Parreira lamentou o descaso com que o governo tratou das obras de infraestrutura para o evento, embora o país tenha sido confirmado como sede em 2007; portanto, com tempo suficiente para executar as obras.
Também gastou ironia ao lembrar que, de fato, teremos alguns serviços melhorados, mas em 2018, 2020... "Queríamos isso para agora, para mudarmos a visão que os estrangeiros têm do Brasil."
Nada do que Parreira disse é novidade. Setores da imprensa com senso crítico apurado e sem pendores oficialistas (chapa-branca, no popular) há muito alertam para o perigo de trabalhos executados sem transparência e sem competência.
O panorama atual não surpreende os que não embarcaram no mundo cor de rosa prometido por governantes e pelos organizadores da Copa.
O sinal de que havia muita conversa fiada explodiu tão logo o ex da CBF garantiu que a competição seria feita totalmente com dinheiro privado. Desnecessárias explicações adicionais.
O que chamou a atenção foi o berro ter partido de alguém ligado à CBF, com trânsito livre na Fifa e experiente o suficiente para saber no vespeiro em que mexeu.
Parreira não é um rapazinho empolgado com notoriedade súbita e que sai por aí a despejar o que lhe vem na veneta. Portanto, não fala à toa.
A bronca pública de personagem experiente no mundo da bola levantou várias interpretações, reação comum em casos semelhantes.
Teria Parreira externado o que a Fifa desejava ouvir? (Blatter e Valcke cutucam o Brasil a todo momento.)
Ajudou a oposição à presidente Dilma, ainda mais em ano eleitoral?
Reforçou os argumentos de quem sai às ruas para protestar contra o Mundial?
Ou apenas exerceu o direito ao uso do livre-arbítrio diante de situação que considera constrangedora?
Fico com a última alternativa, à falta de provas em contrário e com o risco de ter atitude ingênua.
Dois aspectos, porém, me parecem irrefutáveis: 1 - a CBF provavelmente não gostou do desabafo do ilustre colaborador. José Maria Marin foge a todo custo de confrontos com o Planalto. Mas não deve fazer nada, diante do peso do nome do técnico; 2 - Parreira não mentiu.
Em tempo: difícil imaginar que não haverá novas passeatas de quem esteja descontente com os custos do Mundial. Temos liberdade para tanto.
Perigoso e inútil o lema "Não vai ter Copa". Trata-se de hipótese inviável e que feriria nossa autoestima. E é prato cheio para grupos radicais, que se aproveitam das multidões apenas para espalhar medo.
Pato aqui ou acolá?
Está com jeito de que Alexandre Pato arranjou sarna pra se coçar, ao tentar justificar-se após as vaias no sábado à noite. "Não jogo sozinho. Sou eu e mais dez."
Ele não anda com muito cartaz com a torcida, menos por falta de gols (até que teve média boa em 2013) e mais por não firmar-se como titular e pelo estilo, digamos, distraído.
A mudança de reação -- mais agressiva -- pode ser-lhe boa, se vier acompanhada de maior vibração nos jogos. Quem sabe tenha chance no clássico desta noite com o Santos?
Neymar explica
Neymar pai considerou razoável dar a versão dele para os números expressivos e desencontrados da transferência do filho para o Barcelona.
Uma coisa saltou à vista: o clube catalão pagou 40 mi ao moço para garantir prioridade na transação. Caixa generoso.