Verão escaldante 03/02/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Deve ser culpa do "calor ensurdecedor" que assola o Estado. Mas o Campeonato Paulista mal engrenou, pega fogo e os principais clubes já têm um bocado de fatos e incidentes para alegrar-se ou para deixar as barbas de molho.
Até agora, foram só cinco rodadas, suficientes para empolgar torcedores de Palmeiras e Santos, para fazerem cismar os são-paulinos, para irritar os corintianos e manter o desalento dos fãs da Lusa, lanterna (1 ponto ganho) e sem treinador.
O tempo anda fechado pra valer no Corinthians, com nuvens carregadas, turbulência, ânimos exaltados, falta de explicações convincentes, medo, caras feias (e futebol idem). No sábado, houve invasão do centro de treinamentos e tentativa de agressão de quem aparecesse na frente da turba. Correria de jogadores e funcionários, objetos quebrados ou roubados, polícia em cena e ninguém detido.
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Os habituais métodos de terror usados por extremistas que se fingem de fiéis tiverem reflexos no desempenho do time ontem diante da Ponte. A derrota por 2 a 1, a terceira derrapada em seguida, não deve ser creditada só aos energúmenos, mas eles contribuíram para o descontrole além da conta dos rapazes supõem incentivar. A insegurança escancarou-se nos vermelhos mostrados para Gil e Paulo André.
Nervosismo à parte, o Corinthians por enquanto é versão piorada de 2013. Se o comportamento não agradou na temporada anterior, a ponto de provocar a saída de Tite (sob a alegação simpática de que precisava descansar), agora a largada se mostra mais desastrosa. Aquele time não fazia muitos gols, assim como não os sofria em grande número. O de agora continua sem apetite para o ataque, mas se abriu e enfraqueceu o sistema defensivo.
A instabilidade evidente, porém não surpreendente. Por simples constatação: o comando técnico mudou, há uma ou outra cara nova na escalação. Na essência, porém, o elenco é o mesmo. Já vi reviravoltas e transformações positivas; por isso, não descarto a possibilidade de o Corinthians dar uma guinada pra cima. Só me permito ficar com pé atrás, pois vários do que negaram fogo antes continuam apagados neste momento. Ou a chacoalhada vem logo, ou o caldo entorna de vez.
O otimista pode alegar que a equipe teve posse de bola, trocou passes, arriscou chutes a gol na tarde quente do Moisés Lucarelli. O cético contrapõe com uma obviedade: e, ainda assim, pouco incomodou a Ponte. Douglas, Danilo, Emerson, Guerrero e companhia mantiveram a toada previsível, repetitiva e insossa da fase atual.
Há tempo suficiente para renascimento. Não na base da violência nem da intimidação. Se isso desse certo, o Corinthians teria meia dúzia de Libertadores, além de cinco ou seis Paulistas e Brasileiros a mais, tantos foram, em outras ocasiões, os episódios semelhantes aos de sábado.
Desagradável também a situação da Lusa. A indecisão em torno da permanência na Série A nacional se estende para o torneio doméstico. Em cinco jogos, foram quatro derrotas -- a de ontem pela manhã (4 a 2 para o Audax) levou Guto Ferreira a entregar o cargo. Canindé sem rumo.
Águas calmas
O Palmeiras, para contrabalançar, navega em mar sereno. Com a devida ressalva de que não se deve alimentar ilusões com os combates regionais, há o que comemorar. Na semana passada escrevi, neste espaço, que Gilson Kleina molda um time com cara boa, e assim segue a fazê-lo.
Os triunfos se acumulam e, com eles, atletas fortalecem a autoestima, se soltam, se sentem à vontade para ousar. E a consequência se viu na apresentação sem sobressaltos contra o São Paulo. Nenhuma maravilha; tampouco uma estratégia modorrenta. Por ora (e tão somente) faz com o Santos a dobradinha arrebatadora no Paulista.
O São Paulo fica na encruzilhada. Assemelha-se ao Corinthians por ter a espinha dorsal de 2013, com altos e baixos. Ensaia deslanchar e logo tropeça em clássicos. Fez bem Muricy ao não subir o tom nas vitórias.