Mano e os mano 07/02/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Tudo bem que a vida seja gangorra, que uma hora nos deixa por cima e noutra nos coloca lá embaixo. A oscilação vale também para times de futebol. Mas no Corinthians esse vaivém parece coisa de doido. O sobe e desce constante vira a cabeça de qualquer um.
Em 2011, amargou a vergonha da eliminação na Libertadores diante do Tolima. Mas fechou o ano com o título brasileiro. Como consequência daquela proeza, em 2012 voltou ao torneio continental, foi campeão e ainda ganhou o mundo. Largou 2013 com a taça do Paulista e terminou a Série A como o rei dos empates.
Daí vem 2014 e o que se mostrava ruim ficou pior - pelo menos no primeiro mês de atividades. De novo sob o comando de Mano Menezes, venceu nas duas rodadas iniciais e agora emenda quatro derrotas seguidas. Já enfrentou invasão do Centro de Treinamentos, está sob fogo cruzado de parte da torcida, dispensou Pato, Douglas e tem outros na plataforma de lançamento. Emoção demais pra pouco tempo.
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A fase destrambelhada fundiu a cuca de setores da Fiel. Pra ser específico, de algumas organizadas. A rapaziada perdeu a noção de civilidade na tentativa de dissipar a crise. Como têm pressa e se acostumaram a resolver diferenças na base da coação, os mano mais exaltados apelaram para a ignorância e tentaram dar uma prensa nos jogadores. Aquele terror que vocês viram.
Pensam que acabou? Que nada. O desespero e nonsense se acentuaram a ponto de provocar cena ridícula, que desembocou em truculência. Durante o jogo com o Bragantino, anteontem, um grupo de torcedores incentivava a equipe para sair do sufoco dos 2 a 0. Ou seja, fazia o que se espera de quem ama. De repente, um moço fortão aparece e começa a pedir para pararem com aquilo. "Por gentileza, na boa, hoje não", repetia, indignado com a postura dos que agiam com o coração. Como não o atenderam, vieram outros correligionários que procuraram calar os dissidentes na força bruta. A PM entrou em ação e foi um corre-corre nas arquibancadas.
Reparem, amigos, a que ponto se chega. Uma ala da torcida se considera a depositária de todo o carinho, a dedicação, a paixão pelo Corinthians. E, assim, julga-se no direito de determinar quando, como, onde e quem pode manifestar-se a favor ou contra. O sentimento dela, soberano, prevalece sobre o do restante. E, se não obedecer, entra no tapa, como se fosse seguidor de clube rival. É ou não comportamento pra levar pro divã? Muita cara de pau.
Vai entender, também, o que se passa com Mano Menezes. Entre 2008 e metade de 2010 ajudou a reconstruir o Corinthians, ao resgatá-lo da Série B e dirigi-lo nas campanhas vitoriosas do Paulista e da Copa do Brasil de 2009. O passe dele se valorizou tanto a ponto de abrir-lhe as portas da seleção, após a demissão de Dunga. Certo, contou com uma força do ex-presidente Andrés Sanchez, então carne e unha com aquele que abandonou a CBF.
Mano viveu a maior experiência profissional, interrompida no fim de 2012, quando os novos mandarins do futebol lhe deram um chega pra lá e reconvocaram Felipão e Parreira para aprumar a amarelinha. O baque foi forte, por mais que o jeito fleumático disfarce. O reflexo veio com a passagem relâmpago pelo Flamengo em 2013. Lembram? Depois de algumas derrotas, de uma hora para outra, ele pegou o boné e foi embora. Meses depois, o Fla conquista a Copa do Brasil com Jayme de Almeida.
Embora muito cedo para conclusões, o fenômeno ensaia repetir-se no Corinthians. Mano não consegue dar padrão ao conjunto, as substituições não rendem e a impaciência da massa cresce. Quem sabe, comece de fato o trabalho com as trocas - que eram imprescindíveis desde a reta final da era Tite. Fato que, independentemente de treinador, vários heróis de 2012 esgotaram o repertório. A permanência deles no Parque São Jorge representou retrocesso.
Para complicar a vida de Mano e seus rapazes, e para desesperar a Fiel (uniformizada ou não), o Palmeiras vai de vento em popa. Ai, ai.