Pizza no clássico 17/02/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Não sei o que amigos corintianos e palestrinos pensam, mas o dérbi de ontem não entra para antologia do futebol. Em 97 anos de história, houve dezenas de duelos muito mais eletrizantes, emocionantes e apaixonantes protagonizados pelos dois rivais.
O empate por 1 a 1 ficou de bom tamanho. Já que se tratava de clássico da paz (outra tentativa, dentre tantas, para acalmar ânimos de torcida), a pizza simbólica, com aceitação ampla, democrática e irrestrita, veio a calhar.
A constatação não significa que tenha sido jogo de compadres, embromação ou conversa fiada pra boi dormir. Corinthians e Palmeiras esforçaram-se para vencer, correram, tiveram momentos de tensão, criaram oportunidades de gol. Tudo conforme o figurino. Com um detalhe, porém: houve limitações de parte a parte. Muita transpiração e pouca inspiração, se me permitem o uso de um lugar-comum.
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Tropeçar representaria desastre para alvinegros e constrangimento para os alviverdes. Por isso, Mano Menezes e Gilson Kleina tomaram precauções. O corintiano blindou o meio, com Ralf, Guilherme e o estreante Bruno Henrique (boa atuação). E deixou Jadson, também cara nova e igualmente com exibição ok. O palmeirense colocou Marcelo Oliveira à frente da zaga, apostou em Wesley e Mazinho para fechar os lados e achou que Valdivia como sempre criaria para Leandro e Kardec.
Nem tudo saiu como planejado. O Corinthians se resguardou, e isso era necessário. A defesa, antes ponto alto, tem sido vulnerável no Paulista. Desta vez, ganhou proteção e deu menos espaço para o ataque adversário. Cássio, de volta após longa permanência em recuperação, interveio poucas vezes. Só que não foi muito ao ataque.
O Palmeiras esbarrou na mobilidade baixa de Valdivia. O chileno funciona como termômetro do time - não é novidade pra ninguém. Apareceu menos que em outras ocasiões, errou passes e ainda assim ao pegar na bola era quem dava a sensação de criar algo diferente. A presença dele serve, no mínimo, para irritar os rivais. Apesar do amarelo que tomou, até foi muito comportado.
Justiça se faça, a partida não deu sono na primeira parte. Melhorou na segunda, por méritos do Corinthians. Jadson, Guerrero, Romarinho e Guilherme deslocaram-se com frequência e velocidade maiores, e dessa maneira passaram a rondar a área de Prass. O goleiro teve antecipações decisivas, destacou-se e só não conseguiu pegar o chute de Romarinho na cara do gol.
Ô rapaz de estrela contra o Palestra! Romarinho é aquele jogador de quem a Fiel adora pegar no pé, tem recebido mais vaias do que político em solenidade oficial. Mas diante do Palmeiras sempre guarda o dele. Apreendeu, intuitivamente, o que representa o dérbi, sabe que pra ficar bem com a massa basta marcar nesse encontro especial.
O Palmeiras acordou depois do susto. Kleina tirou Mazinho (nulo) e colocou Marquinhos Gabriel (que devagar cava lugar de titular). A entrada de Mendieta na vaga de Leandro também tornou o meio mais consistente. Mais corajosa foi a troca de Wellington por Diogo. O gol de Kardec foi consequência da melhora.
O clássico mostrou o Corinthians melhor do que em rodadas anteriores, e longe do ideal. Jadson deixou boa impressão, assim como valeu o retorno de Renato Augusto. O Palmeiras manteve a invencibilidade, se saiu com altivez do segundo teste difícil (havia vencido o São Paulo), e está claro que Kleina mudará a escalação. Questão de mais dia, menos dia.
E 22 mil pagantes no Pacaembu é número que entristece. Isso, em tempos idos, era público quase de treino para cada equipe. A propósito: 13 mil torcedores no Vasco 1 x Flamengo 2 também baixa o astral.
Apoio maroto
A torcida do Atlético prestou solidariedade a Tinga, no com o Cruzeiro, por causa da atitude racista de que foi vítima no Peru. De modo peculiar, ao cantar: "Ei, Tinga, vai se ... Mas no caso do racismo estamos com você!" Não foi de graça. Pelo menos ficou engraçado.