OS ESQUIZOFRÊNICOS 20/02/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Sempre que, no Brasil, governantes anunciam que pretendem cumprir a lei, sinto-me algo pacificado.
Quando, então, eles o fazem, chego quase a ficar contente.
Só não sou tomado de alegria genuína porque não há como não achar estúpido que o cumprimento da lei no país seja notícia.
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Entenderam a ironia da coisa?
Em entrevista a rádios de Alagoas, a presidente Dilma Rousseff afirmou, ontem, que, se preciso, poderá recorrer às Forças Armadas para conter eventuais distúrbios.
Afirmou: “A Polícia Federal, a Força Nacional, a Polícia Rodoviária, enfim, todos os órgãos do governo federal estão prontos e orientados para agir dentro de suas competências. Se e quando for necessário, nós mobilizaremos também as Forças Armadas”.
A afirmação está gerando certo barulho, como se houvesse nisso algo de excepcional.
Ora, ora, ora…
Absurdo, isto sim, é o clima de insurreição e revolta que certos cretinos pretendem emprestar a movimentos de reivindicação.
Uma presidente da República afirmar que vai apelar a um dispositivo constitucional não deveria surpreender ninguém.
Só está anunciando que, se necessário, fará cumprir o Artigo 142 da Constituição, a saber:
“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
O que vai acima é claro, inequívoco, não permite ambiguidades: as Forças Armadas podem atuar também na segurança interna, na garantia da “lei e da ordem”.
Assim, se as respectivas Polícias Militares dos estados se mostrarem incapazes de garantir a segurança, a Constituição da República Federativa do Brasil diz o que fazer.
Bem, eu prefiro uma presidente que cumpra a Carta Magna a uma que não cumpra, não é?
Eu prefiro uma presidente que siga as leis a uma que as ignore.
Esta que falou em Alagoas cumpre o que dela se espera.
Aquela que recebeu o MST no dia seguinte à pancadaria fez o que não devia e incentivou a violência.
É claro que essa conversa de Forças Armadas busca criar alguma intimidação e envia um recado aos extremistas: se passarem da medida, a mão pode pesar -- segundo, reitero, o que determina a Constituição.
Nada disso precisaria estar sendo dito, e o anúncio de que a Constituição será cumprida seria uma desnecessidade se o governo Dilma não tivesse sido entre palerma e irresponsável diante das chamadas manifestações.
Foi palerma porque tardou -- e ainda é confusa a respeito -- a deixar claro que a desordem não seria tolerada -- e ela está sendo, como sabem.
E foi irresponsável porque, por intermédio de alguns ministros, não resistiu à tentação de incentivar a bagunça.
E como não falar de Gilberto Carvalho?
Discurso irresponsável
Carvalho participou também ontem de um evento no Ministério da Justiça sobre mediação de conflitos fundiários e urbanos.
E, segundo informa a Folha, saiu-se com esta conversa:
"Para além das questões do Judiciário, no Executivo, no aparelho de Estado brasileiro, é evidente que você não tem uma posição neutra, é evidente que você tem posição favorável a essa mentalidade de que tudo que fere a ordem estabelecida é um problema", disse Carvalho.
E completou: "Cabe muitas vezes ao Executivo a tarefa inglória de fazer cumprir uma ordem, uma lei, que sabidamente não podemos estar de acordo. Há uma mentalidade do aparelho de Estado que se posiciona claramente contra tudo que é insurgência e reivindicação de direitos".
Carvalho está apelando à velha arenga marxista sobre a falta de neutralidade do estado, que estaria, então, a serviço de uma classe e dos interesses estabelecidos.
Ora, isso é música para os ouvidos da turma do pega-pra-capar.
Mais: notem o tom da fala. Um ministro de estado lamenta que o governo seja obrigado a cumprir a lei -- e, como se sabe, cumpre mal e porcamente.
É compreensível que as áreas do país afeitas à pasta de Carvalho passem a impressão de que o país está à beira da insurreição -- vejam, por exemplo, os confrontos entre produtores rurais e índios.
Este senhor, não faz tempo, tentou fazer dos rolezinhos uma espécie de ensaio de guerra racial no país.
É por isso que afirmei em coluna recente que Carvalho é aquele que especula com a guerra de todos contra todos.
Então ficamos assim: enquanto, em Alagoas, Dilma dizia que pode, se necessário, chamar as Forças Armadas, em Brasília, Carvalho incentivava a baderna, demonizando o estado, a lei e a ordem.
Mas Dilma deve achar bom e correto. Ou não o manteria no ministério, certo?