Lula critica o governo Dilma a interlocutores dazelite 24/02/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
O Apedeuta anda criticando o governo Dilma em conversa com interlocutores.
Primeira pergunta: ele quer voltar? A segunda: há a possibilidade de ser ele o candidato do PT? A terceira: as críticas fazem sentido?
Pois é… Vou começar pela mais fácil.
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Sim, Lula adoraria voltar. Eu diria até que, intimamente, ele não pensa em outra coisa. Mas sabe que isso é muito difícil -- diria mesmo ser impossível hoje.
Num cenário de catástrofe, não tenham dúvida de que o salvador da pátria se apresentaria.
Mas isso não está no horizonte. Ademais, Dilma não exibe números espetaculares segundo os institutos de pesquisa, mas é franca favorita à reeleição -- e no primeiro turno, segundo os números de hoje.
Talvez, lá no fundo do peito, nos seus desejos mais recônditos, mais profundos, o ex-presidente até torcesse para que ela despencasse e se mostrasse uma candidata de alto risco. Mas isso não aconteceu.
Botá-la em escanteio seria visto como um gesto truculento e, na verdade, desnecessário.
Então sintetizo agora duas respostas numa só: querer, ah, isso ele quer muito. Mas não pode. Não tem como tirar Dilma do meio do caminho.
Lula virou uma espécie de psicanalista de alguns setores descontentes com o governo.
Tem recebido uma verdadeira romaria -- inclusive de alguns pesos pesados da economia -- que lhe pedem para voltar.
Desde José Rainha -- um dissidente esquerdista do MST, que agora fundou seu próprio movimento -- a alguns pesos pesados do PIB, a romaria dos que vão a Lula é grande.
E ele não se furta ao papel absurdo de presidente paralelo. Ouve as reclamações, tranquiliza o interlocutor, promete providências e, como se nota, deixa vazar críticas à sua sucessora.
Lula, como sempre, está descumprindo uma promessa. Tinha anunciado que seria um ex-presidente discreto e silencioso, como nunca antes na história deste país, para usar um bordão seu.
E, como nunca antes da história deste país, é um ex-presidente que tem ambição de continuar governando.
O chefão petista considera -- a Folha de hoje traz uma reportagem a respeito -- o governo Dilma centralizador demais e avalia que ela se afastou dos empresários. Acha a gestão pesada, lenta.
Acredita também que a atual equipe econômica já deu o que tinha de dar -- vale dizer: Guido Mantega.
As suas críticas, afinal de contas, procedem?
Depende. Tomadas as coisas como são, a resposta é “sim”.
Mas Dilma faz algo muito diferente, ou deixa de fazer alguma coisa, na comparação com o seu antecessor, o próprio Lula?
A resposta é “não”.
Então o que foi que mudou?
A realidade internacional. Deem a Dilma a mesma economia mundial que Lula tinha, com a China crescendo em ritmo alucinante, com o preço das commodities primárias nas alturas, e ela se sairia melhor.
Deem a Dilma um cenário de corrida do dinheiro para os países emergentes para fugir da crise americana e europeia, e ela se sairia melhor. Acontece que esses eventos não vão se repetir.
Dilma está pegando a fase final das “virtudes” do modelo lulista, ancorado no consumo.
O déficit de US$ 11,591 bilhões nas contas externas em janeiro começou a ser fabricado no governo Lula.
O rombo certo na balança comercial em 2014 -- o primeiro em 13 anos -- também começou a ser fabricado no lulismo.
O papel cada vez mais modesto da indústria no PIB e um déficit de US$ 110 bilhões do setor no ano passado têm a digital indelével de… Lula!
Pergunte-se: que reforma estrutural importante ele encaminhou? O que efetivamente fez pelo investimento em infraestrutura?
Em vez de privatizar aeroportos e estradas, por exemplo, passou oito anos demonizando as privatizações por motivos estritamente políticos, por proselitismo ideológico vigarista.
A crise da Petrobras, para citar um caso emblemático, é uma das heranças malditas que Lula deixou para a sua sucessora.
O governo Dilma é, sim, a meu juízo, muito ruim -- mas não é pior do que era o de Lula.
O que mudou de modo importante foi a conjuntura internacional, e o PT não estava preparado para isso.
Encerro apontando a absoluta falta de pudor político de um ex-presidente da República que se dá ao desfrute de manter reuniões com empresários e de fazer vazar as suas críticas, constrangendo a sua sucessora.
Ainda que Dilma não se elegesse nem síndica de prédio em 2010 sem o seu apoio, o fato é que ela é a atual presidente da República.
No fim de 2010, Lula afirmou que iria gastar seu tempo como ex-presidente cozinhando coelho em seu sítio, em Ribeirão Pires.
Pelo visto, anda mais ocupado alugando a orelha para tubarões.