Mas não era tudo culpa dos banqueiros gananciosos e malvados? 02/03/2014
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
Taxa de juros na estratosfera. A realidade brasileira de longa data. Narrativa da esquerda: tudo culpa dos banqueiros, esses gananciosos malvados que só querem lucrar à custa da exploração dos pobres trabalhadores.
Solução proposta: basta ter vontade política para enfrentar os poderosos banqueiros. Instrumento: bancos públicos, já que o governo é o maior banqueiro do Brasil.
Realidade: presidente Dilma chega ao poder e puxa da cartola a arma contra os banqueiros. Será a presidente que teve coragem de desafiar os ricos e poderosos para beneficiar os mais pobres com taxas de juros de primeiro mundo. Alegria de ignorante em economia dura pouco…
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Em reportagem no GLOBO de hoje, vemos que as taxas de juros do Banco do Brasil e da Caixa, que nunca chegaram a ficar tão menores assim do que as da concorrência privada, voltaram a subir, e bem. Estão em patamares assustadoramente elevados.
Atentem bem para o número: 6,64%. Ao mês! Eis a taxa de juros do cheque especial no BB, e isso para quem recebe salário pelo banco.
Pergunta: o estado é um banqueiro malvadão, ganancioso, cruel, insensível? Ou será que existem outras razões mais estruturais para o Brasil ter taxas de juros tão altas?
Será que elas têm ligação com as enormes barreiras à entrada de novos concorrentes? Será que estão atreladas ao alto compulsório exigido pelo Banco Central? Será que têm algo a ver com a inadimplência ou a dificuldade de arresto de bens dos inadimplentes? Será que são resultado da baixa taxa de poupança no país, por conta dos elevados gastos públicos?
O que a esquerda jamais parou para pensar é o seguinte: bancos estrangeiros, como o Citi, o Santander e o HSBC, atuam no Brasil, e cobram, aqui, taxas semelhantes àquelas do Itaú ou Bradesco.
Por acaso os banqueiros internacionais ficam mais gananciosos quando atravessam a linha do Equador? Teria a ver com o clima, alguma coisa na água brasileira?
Um mínimo de reflexão já seria suficiente para convencer qualquer um (sem algum tipo de retardo mental) de que as altas taxas de juros não são o resultado da ganância de banqueiros, e sim de forças mais estruturais ligadas a nossa economia intervencionista e nosso governo gastador.
A presidente Dilma preferiu a postura demagógica de “enfrentar os banqueiros”, ou seja, atacar os sintomas em vez de as causas do problema, quebrar o termômetro no afã de acabar com a febre.
Deu nisso: as taxas de juros já estão no mesmo patamar de quando ela começou sua cruzada populista. E no meio do caminho várias decisões tomadas pela Caixa e pelo BB foram políticas em vez de econômicas, o que vai cobrar um alto preço à frente.
Resta saber se a esquerda vai continuar condenando os banqueiros gananciosos por nossos problemas econômicos…